Assis de Embu: morre a memória viva de Embu das Artes

31/10/2006 - 0:00
Assis de Embu: morre a memória viva de Embu das Artes
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Embu das Artes amanheceu triste. O artista plástico Assis de Embu, grande articulador do movimento artístico e cultural da cidade, ao lado de Solano Trindade, Sakai de Embu e tantos outros, faleceu na madrugada dessa terça-feira (31 de outubro), aos 75 anos de idade. Seu corpo será velado na Câmara Municipal de Embu (Rua Marcelino Pinto Teixeira, 50 – Parque Industrial – Embu), a partir das 16h30 de hoje. Amanhã, um cortejo sai do Centro Cultural em direção ao Cemitério do Rosário (Av. Elias Yazbek, 1.713 – Centro – Embu), onde o sepultamento será às 10h. O prefeito Prefeito está decretando luto oficial na cidade.

Com a morte de Claudionor Assis Dias, seu nome de batismo, Embu das Artes perdeu uma memória viva de sua história. Assis chegou à cidade em 1959. Escultor em madeira, pedra-sabão e terracota, pintor, ator, bailarino e poeta, foi um dos principais responsáveis pela criação da Feira de Embu das Artes. Nasceu em Minas Gerais, na cidade de Campo Belo, em 21 de março de 1931. Lá trabalhava de pedreiro, frentista e fazia altos-relevos na frente das casas coloniais. Veio de caminhão para São Paulo, onde começou a trabalhar como pedreiro com o mestre Azarias de Carvalho, genro de seu mestre em Minas. Na cidade de Poços de Caldas, Assis ensinou modelagem na Escola Dom Bosco.

Em 1959, através de uma nota de jornal sobre o artista Cassio M´Boy, Assis o procurou e mostrou uma escultura em gesso e passou a frequentar seu ateliê e aprendeu técnicas de cerâmica com o mestre Sakai, que o aconselhou a procurar o poeta Solano Trindade, que na época estava fazendo uma apresentação com o seu Teatro Popular Solano Trindade.

Assis veio para o Embu com o seu grupo, e os dois, poeta e escultor sonharam fazer de Embu um reduto coletivo de arte. Em todo o centro da cidade se dançava, pintava, esculpia e tocava.

Assis e Solano faziam festas num barraco da Rua Siqueira Campos (hoje incorporada ao circuito da feira aos sábados, domingos e feriados), que duravam até três dias. As danças iam até a Lagoa dos Jesuítas e atraíam muitos turistas.

Muito imitado e copiado, Assis tem várias obras espalhadas pelo mundo, que representam uma linha artística muito particular.

Começou a dar aulas de escultura em madeira, pedra e bronze, em seu ateliê, o "Barraco do Assis", que podemos afirmar foi o primeiro centro cultural da cidade, local onde posteriormente foi fundado por Assis o "Movimento do Embu", que agregava Solano Trindade e seu grupo. Foi Secretário de Turismo e Cultura do Município em 2000.

Poema à Margarida

(Autor: Assis de Embu)
Havia flores lindas!
Sobre a relva fétida e espinhosa
Onde urubus passavam sem pousar,
Onde gambás tapavam suas ventas;
Havia flores sobre o asfalto
Esmagadas pelos pneus dos autos,
Pobres pneus que não sabem amar;
Havia flores brotando nas montanhas
Das sementes que eu deixei cair,
Mas o sol,
Mais perto da montanha
Era mais quente
Queimou a flor
Queimou a flor
Havia flores em Hiroshima e Nagasaki
E a bomba atômica desintegrou as flores
Havia flores plantadas sobre as nuvens
E os falsos anjos
Levaram-nas para os falsos deuses
Havia flores nos canteiros das beatas
E elas os levaram para morrer com seus mortos;
Havia flores nas bocas dos canhões
Até que um dia o homem matou a flor
E o homem…
Havia flores sobre os rios,
Sobre os mares,
Mas o homem na ganância do poder
Destruiu as flores
E ensangüentou os mares
Havia flores nos prostíbulos
E os cafetões pisaram as sementes
Havia flores nos guetos de Varsóvia,
E Hitler massacrou-as com seus tanques
Havia, e ainda há flores
No Vietnã,
Na África,
No Iraque,
Mas os Ianques, os russos
Incendiaram-nas com suas bombas.
Destruíram até as flores que
Eu plantei no meu canteiro
A rosa
O cravo
A violeta
A dália
A papoula
O jasmim
A margarida de ontem
A margarida de hoje
Que ontem era vermelha
E quente como o meu sangue
Que ferveu por ela
Mas, passou-se o tempo
E o seu calor foi, foi sumindo, sumindo…
Hoje a margarida é branca
É pálida, é fria
Só tem no centro
O amarelo do desespero
Porque a canalha
Metralha-as de São Domingos
Por que os homens
Ainda massacram seus irmãos?
Até quando, margarida?
Até quando, margarida?
Até quando, margarida?

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