Faleceu ontem, 15/12, o artista plástico e idealizador do Museu do Índio de Embu das Artes Walde-Mar. Ele faleceu de pneumonia, aos 82 anos, no Hospital Pirajuçara. O sepultamento será no Cemitério do Rosário, próximo à Praça da Lagoa, no Centro, às 11h, no Mausoléu dos Artistas.
Walde-Mar freqüentava Embu das Artes desde os anos 60 e foi um dos primeiros artistas a expor na cidade em frente à Igreja de Nossa Senhora do Rosário, hoje Museu de Arte Sacra. Foi um dos maiores pintores NaÏfs do Brasil e sua pintura atraía muitos estrangeiros, principalmente os alemães. Toda a sua obra foi dedicada à divulgação e defesa das causas indígena e ecológica. Deixou diversos livros publicados e em vários idiomas.
Paulista de Timburi, ele chegou a São Paulo em 1953 e arrumou emprego de escriturário no Centro. Valdemar de Andrade e Silva, o Walde-Mar, aventurou-se então no futebol e no pugilismo – ele treinou com Valdemar Zumbano, tio de Eder Jofre. Depois, matriculou-se no Teatro Oficina, onde fez curso com Eugênio Kuznet. Seus colegas eram Hélio Souto, Rosamaria Murtinho e Regina Duarte. Nessa época, adotou o nome artístico “Walde-Mar”, por ter outros dois atores no elenco chamados Waldemar.
Seu irmão Newton Andrade também foi um grande pintor de Naïf, e inspirou Walde-Mar a iniciar a carreira artística. Vendo o interesse de Walde-Mar pela cultura indígena, Newton o incentivou a fazer obras sobre o assunto. Os três quadros que levou à Praça da República, em São Paulo, impressionaram os visitantes. A primeira tela foi vendida para o colega que expunha ao lado. O segundo para uma revista de arte dos Estados Unidos. E o terceiro para uma colecionadora admirada com o estilo do pintor.
A paixão pela arte cresceu. Aos domingos, o artista enchia o seu fusca e partia rumo a Embu para expor os trabalhos e se encontrar com os escultores da época – Assis, mestre Gama, Sakai, Vicente de Paula e outros. Walde-Mar apaixonou-se pela cidade, que começava a ser conhecida como Embu das Artes.
Pelo Mundo
Walde-Mar tem mais de 1.500 obras, entre pintura em pedra, tela, cabaça, baú e remo indígena. Sua experiência contribuiu para a publicação de três livros: “Lendas e mitos dos índios brasileiros”, “O Menino Botovi” e “Anituengo”. O primeiro foi editado na Alemanha e no Japão. Na bagagem, estão exposições na Alemanha, França, Bélgica, Áustria, Portugal, Suíça e outros países. Em 1970, no consulado norte-americano, o artista recebeu um bilhete do sertanista Orlando Villas Bôas, que o convidou para conhecer os índios no Parque Indígena do Xingu. Meses depois, ele desembarcava nas aldeias e fazia contato com sua maior referência. Daí em diante, visitou mais de 20 tribos, tornando-se um pesquisador da cultura, marcada nos filhos Tarumã e Aritana.
Em 1996, foi lançado na Alemanha um jogo educativo, com 110 cartas relacionadas à cultura indígena sob o olhar de Walde-Mar, tendo seu conteúdo traduzido em treze idiomas. Três anos mais tarde, uma empresa de porcelanas lançou uma coleção de pratos decorativos com obras do artista, relacionadas às lendas indígenas. Walde-mar também foi convidado para fazer cartões de natal para a o Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF.
A nossa oca
Em 2004, ele inaugurou o Museu do Índio, que conta com mais de 500 peças autênticas que ganhou de presente nas suas viagens. O acervo reúne utensílios para o preparo da comida, instrumentos musicais, armas de caça, enfeites usados em rituais, peças em cerâmica, cestaria e muitos outros.
O Museu do ÍNdio ficará fechado nos próximos dias até que a família decida sobre como será o funcionamento do museu, um dos tesouros deixados por Walde-Mar.