O Movimento Nacional Fé e Política originou-se da organização das “CEB´s”, as Comunidades Eclesiais de Base, que foram um dos principais movimentos que lutaram pela redemocratização do Brasil e pela melhoria da qualidade de vida das periferias nas metrópoles e grandes cidades brasileiras e da América Latina (como a luta por ônibus, emprego, creches, água, luz, escolas, calçamentos, etc) .
As CEB´s também foram centrais nas lutas contra a Carestia, nos movimentos sindicais grevistas das décadas de 1970-80, pelas creches, no movimento dos Desempregados, pelas Diretas- Já, na formação da CUT Central Única dos Trabalhadores, na formação do PT Partido dos Trabalhadores, pelo apoio aos candidatos populares (como Irma Passoni, João Carlos Alves, Prefeito etc), na eleição de Lula para deputado federal em 1987 e na eleição de Luiza Erundina para a prefeitura de São Paulo em 1989.
Em Embu das Artes as CEB´s foram organizadas pelo Padre Jaime Crowe, que era capelão no Convento da Ressaca e tornou-se pároco da Igreja de Nª Sª do Rosário em 1970. Em entrevista, padre Jaime contou que elas foram criadas por determinação do Concílio Vaticano II (o mais importante da Igreja católica) em 1965 e pelo Encontro Internacional de Medellin, México, em 1968, do qual participou Dom Paulo Evaristo Arns que assumiu a Arquidiocese de São Paulo em 1970. Segundo padre Jaime, ao assumir Dom Evaristo Arns estabeleceu quatro prioridades para todas as paróquias da Arquidiocese: a criação das CEB´s, a luta pelos Direitos Humanos, a ênfase na periferia e a criação das pastorais do trabalho (Pastoral Operária). “E a base de todas essas prioridades eram e continuam sendo as CEB´s que são , nada mais, nada menos, que juntar o povo em pequenas comunidades para refletir e colocar suas vidas em confronto com o evangelho. É a leitura da Bíblia e dos Evangelhos, confrontada com a vida que o povo vive no dia a dia.”
Segundo Padre Jaime, os anos 1970 foram aqueles em que começaram, no Embu e toda a região, o surgimento dos loteamentos clandestinos, da explosão populacional e a transformação dessas cidades em “cidades-dormitório”, totalmente abandonadas e sem nenhum recurso urbano: água, luz, calçamento, ônibus, creches, escolas, emprego . Tudo era necessário conquistar. “Em 1970, quando comecei aqui, Embu era praticamente rural e tinha 15.000 habitantes e a Régis era apenas uma rua. Mas Embu foi o município brasileiro que mais cresceu na década de (19)70. ”
Foi nessa época que começaram os grandes loteamentos (Santo Eduardo , São Marcos, Dom José, Parque Pirajussara, Santa Emília, Santa Teresa, Santa Emilia, Jardim Magali etc.) e também as favelas, sendo a grande maioria de migrantes e retirantes nordestinos, mineiros
“…e a partir de 1975, com a geada que nesse ano vitimou milhares de paranaenses que viviam no campo, vieram os mineiros que viviam no Paraná… Padre Jaime reforça que essa população de migrantes tinha uma grande religiosidade e um grande espírito participativo.
Com o enorme crescimento populacional e a distância, Padre Jaime teve que pedir ajuda: primeiro veio o Padre Eduardo MacGedric em 1975. No ano seguinte, conseguiram dividir a Paróquia em duas: a Paróquia de Nª Sª do Rosário ficou com o Padre Luis Antônio e os padres Jaime e Eduardo ficaram responsáveis pela Paróquia de Todos os Santos, criada no Jardim Santa Emilia, em 5.12.1976.
A partir das organizações locais, dos mutirões para construção de casas, salões e até da conscientização de lutas por condições e direitos, as CEB´s também foram a base dos grandes movimentos sociais das nossas metrópoles; como o Movimento contra a Carestia, o Movimento pela Diretas –Já, o Movimento dos Desempregados (que começou com o Acampamento no Ibirapuera em 1983, organizado também por Paulo Giannini), o Movimento por Transportes nos anos 1980-90, as eleições de candidatos populares, até a luta pelos hospitais regionais, iniciada em meados dos anos 1980 que foi até início de 2000.
Segundo Padre Jaime, foram das CEB´s de Embu das Artes que surgiram as diversas lideranças que chegaram à administração da cidade 20 anos depois.
