Preocupada com a confecção de 120 mil peças de roupa para atender a uma encomenda de um cliente de grande porte, Orlanda de Miranda e suas colegas nem têm tempo de lembrar os apuros para arranjar trabalho que passaram até 2002. "Naquela época estávamos todas desempregadas", conta Orlanda. "Hoje, não falta trabalho." O grupo de 20 mulheres forma a cooperativa de costureiras Unidos em Arte, da cidade de Embu (SP).
A cooperativa surgiu com a chegada da incubadora de cooperativas à cidade, há quatro anos. As incubadoras são locais onde pequenas empresas podem usufruir de espaço físico e estrutura como telefone, água, luz e computadores para se desenvolverem com custos menores. Além disso, recebem treinamento especializado em negócios e, dependendo dos parceiros da incubadora, ter acesso mais fácil a especialistas, laboratórios e cursos.
Há dez anos, havia 38 incubadoras em funcionamento no Brasil, que apoiavam empresas tecnológicas e indústrias tradicionais. Hoje, são 339 em todo o País, e praticamente todo tipo de empresa pode ser incubada. "As incubadoras levam em conta a vocação de cada região", conta Fernando Chinaglia, coordenador do programa de cooperativas do Sebrae-SP. Segundo ele, em Embu há uma tendência à formação de grupos de trabalho. A incubadora de cooperativas tem o apoio da Prefeitura, da associação comercial local, de ONGs e do Sebrae. Em outras cidades, há vocação para a tecnologia ou o agronegócio, por exemplo. "Uma banda, um grupo de agricultores ou um pequeno laboratório podem buscar o apoio das incubadoras", diz Chinaglia.
Por esta razão, a cidade de São João da Boa Vista (SP), terra onde nasceram a artista Pagu e o violeiro Vinicius Alves, se tornou recentemente o berço de uma incubadora cultural. "Aqui lidamos apenas com empresas culturais, ou seja, com gente que quer fazer da arte um negócio. Todas as empresas ganham treinamento para lidar com os negócios e com as oportunidades de obter apoio do Ministério da Cultura", explica o gerente da cooperativa, Francisco Bezerra. "Muitos criticaram a idéia, disseram que os artistas estariam se vendendo. Mas eu não vejo nada de errado em o artista viver daquilo que faz melhor, que é a arte."
No meio do ano, deve haver seleção para que dez novas empresas entrem para a incubadora. Atualmente, bandas, artistas plásticos e artesãos estão entre os 13 incubados. "Hoje eu vivo das minhas pinturas", diz a artista plástica Flávia Mamede, que criou uma escola de pintura na cidade de Aguaí (SP), e é uma incubada à distância. "Já pinto há nove anos, mas foi na incubadora que aprendi noções de negócios e pude transformar algo que me dava prazer em meu modo de vida."
A escola de Flávia é uma das poucas a oferecer aulas de pintura e outras técnicas na região. "Eu sabia que havia pessoas querendo aprender a pintar, fazer colagens e oficinas. Eu via a oportunidade de negócios, só precisava explorá-la."
SUPORTE
O propósito de uma incubadora de empresas é o mesmo dos equipamentos hospitalares para recém-nascidos: oferecer um ambiente favorável para que uma empresa pequena se desenvolva até que ela esteja forte para enfrentar o mundo.
A taxa de mortalidade entre as micro e pequenas empresas que cresceram em incubadoras é bem menor que a de empresas que crescem sozinhas. Enquanto a metade destas últimas morre antes de completar dois anos, entre as incubadas a taxa de mortalidade cai para 20% no mesmo período. "Isso ocorre porque nas incubadoras os empresários recebem treinamento de negócios, além de poderem usar a estrutura disponível no prédio da incubadora: salas de reunião, telefones, computadores, água e energia elétrica", afirma Chinaglia, do Sebrae. "E talvez esse também seja o único ponto fraco das incubadoras. Elas não podem deixar que as empresas fiquem dependentes dos serviços oferecidos, ou seja, não queiram sair deste ambiente confortável. Toda incubadora deve cumprir seu papel por algum tempo, e incutir nos empresários a idéia de que eles precisam sair algum dia."
As 339 incubadores de empresas em todo o País concentram-se nas regiões Sul e Sudeste. O Estado com maior número é o Rio Grande do Sul, com 82, seguido por São Paulo, com 62, e Rio de Janeiro, com 27. Só o Sebrae vai investir R$ 8,5 milhões este ano nas incubadoras em que tem participação.
"É um volume satisfatório. Um país como os Estados Unidos, no entanto, tem um número 20 vezes maior de incubadoras", diz Chinaglia. "Acredito que ainda há espaço tanto para que as incubadoras atuais ampliem o atendimento quanto para que surjam mais empreendimentos em outras regiões do País."
Com o fim da concorrência, o início dos lucros
No município de Embu (SP), até alguns anos atrás, havia uma concorrência feroz entre os condutores de vans para transporte escolar. ‘Se eu fechasse um preço, logo vinha outro que fazia mais barato, e eu tinha de abaixar meu preço cada vez mais para conquistar o cliente’, conta Ildete Gomes, o presidente da cooperativa de transporte escolar da cidade. ‘Quando veio a incubadora, juntamos um grupo de 60 pessoas interessados em organizar esse negócio. Hoje, temos motoristas, monitores e todos se ajudam.’ A concorrência deu lugar a uma escala de horários e regiões atendidas por cada van, e os preços são tabelados pela distância. Surgiram oportunidades de trabalho para as mulheres, como monitoras das crianças que utilizam o transporte. ‘Com a cooperativa, ficou melhor para todo mundo.
Estamos ganhando mais, temos de dirigir menos e as crianças chegam mais cedo em casa’, conta Ildete. A cooperativa fechou contrato com várias entidades da prefeitura e também com alguns dos maiores colégio particulares de Embu. ‘O fato de todos trabalharem em conjunto, uniformizados, fez crescer muito o respeito com o transporte escolar aqui na cidade’, conta a coordenadora da incubadora de Embu, Roberta dos Santos. ‘O passo mais difícil é criar a consciência de que cada um faz sua parte. Depois, basta aproveitar as vantagens de se ter um negócio forte.’