Multiplicidade Cultural e Artística nos 100 anos de Solano Trindade

01/08/2008 - 0:00
Multiplicidade Cultural e Artística nos 100 anos de Solano Trindade
Acessibilidade

O festival que em julho comemorou o Centenário Solano Trindade foi uma grande celebração à cultura popular brasileira e de origem africana. Tudo remetia ao respeitado poeta negro que nos faz pensar: raça? O que é isso? Somos todos seres humanos, com direito a ser feliz, não importa a cor, origem, classe social, credo ou religião. Essa talvez tenha sido a mensagem velada da festa organizada pela Prefeitura de Embu e Teatro Popular Solano Trindade cujo encerramento, entre 24 e 27/7, contou com mais de 100 artistas e um público superior a 500 pessoas que passaram pelo TPST, centro de Embu das Artes.

Uma surpresa estava reservada para a família Trindade: 22 manuscritos inéditos de Solano foram entregues à Raquel Trindade, filha do artista, pelo coordenador da Biblioteca Comunitária Solano Trindade, Antonio Carlos. Os documentos haviam sido doados à biblioteca de Duque de Caxias (RJ), criada para preservar a memória e a obra do poeta, que além de Recife (PE), onde nasceu, e Embu, marcou também a cidade fluminense.

Dia 24 de julho, data em que Solano Trindade completaria 100 anos, o palco do TPST recebeu da África do Sul o Setswana Music Dance. Formado por cantores e bailarinos, o grupo parece mostrar em gestos, expressões, canto e dança porque a África é o berço da humanidade. Elogios como “fantástico”, “maravilhoso” definiram as apresentações que arrebataram o público no teatro e no Largo dos Jesuítas, em meio à Feira de Embu das Artes.

Na sexta-feira, 25, o frio não se atreveu a entrar no TPST, noite de cair no ritmo quente do samba, ouvindo o ronco do instrumento que virou sobrenome de Osvaldinho da Cuíca,  ou na roda de samba na belíssima voz de Fabiana Cozza, que entre uma música e outra emocionava o público declamando poemas do homenageado. MC Trindade, bisneto de Solano, comandou a festa interagindo com a platéia na criação de raps que faziam referência ao bisavô, marcados pelo ritmo das palmas.

Encerramento

“…Negro é como couro de tambor/ quanto mais quente, mais toca/ quanto mais velho, mais zuada faz!”. Foi com este espírito que o evento terminou. O Teatro Popular Solano Trindade ficou pequeno para a grandeza das inúmeras atrações que desfilaram talento e esbanjaram alegria e energia pelo palco. As culturas afro-brasileiras foram representadas por mulheres percussionistas do Ilú Obá de Min. O público se divertiu ainda ao som da dança do cafezal, frevo, folia de reis, congada, maracatu, entre outros ritmos. Um dos momentos mais marcantes do evento foi a encenação da vida de Solano Trindade pelo grupo Teatrando.

Bastante emocionada, a anfitriã Raquel Trindade não perdeu um momento sequer da celebração. “Tem gente que morre de solidão, eu vou morrer de tanta emoção” declarou a artista, reverenciada por todos os grupos que se apresentaram. Encerrada com o Maracatu do TPST, o Centenário Solano Trindade foi verdadeiramente imperdível. Lamentável para quem perdeu.

Seios tropicais duros
Cobertos por uma camisa ocidental
Para encobrir a beleza
                                        Solano Trindade
                                       (trecho de poema inédito)

Carimbo postal em homenagem a Solano Trindade fica nos Correios até 30 de agosto

Devido à greve da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, o carimbo postal comemorativo ao Centenário Solano Trindade foi prorrogado até 30 de agosto. Por iniciativa da Prefeitura da Estância Turística de Embu, todas as correspondências remetidas pela agência do Centro de Embu terão esse registro, levando a imagem e o nome do principal poeta e ativista negro contemporâneo do país para qualquer parte do mundo. Após este período, o carimbo postal ficará exposto no Museu Nacional dos Correios, em Brasília.

O multiartista radicado no Embu (falecido em 1974), elogiado por intelectuais como Carlos Drummond de Andrade, Darcy Ribeiro, Sérgio Milliet, entre outros, completaria o centenário em 24 de julho. Para reverenciá-lo, além do carimbo, também foi lançado um selo postal comemorativo que será publicado na próxima edição da revista COFI – Correio Filatélico. 

----
Compartilhe nas redes sociais