Fazer o próprio autorretrato. Esse foi o desafio proposto pela Oficina de Escultura/Instalações em argila do VIII Prêmio Arthur Bispo do Rosário, promovido pelo Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRP-SP), que ocorreu na última quinta, 14, no Parque do Lago Francisco Rizzo. Mais de 30 pessoas, incluidno usuários da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), participaram da atividade conduzida pelo oficineiro Francisco de Assis da Silva, que já passou por quatro internações e hoje é membro do Coletivo Saci, onde coordena oficinas de modelagem em universidades. “A arte ajuda a gente a curar nossa vida” – define ele.
Ao longo da tarde, os participantes receberam orientações sobre como fazer um rosto passo a passo. Aos poucos, a insegurança foi dando lugar à inspiração. Crianças, jovens, adultos e idosos mostraram suas potencialidades através da arte. Enquanto alguns se preocupavam em acertar, outros trabalhavam de forma mais livre, deixando a imaginação fluir. É o caso do seu Jorge. Morador do Jardim Santa Clara e usuário da RAPS, o seu autorretrato foi um godzilla. Segundo ele, por se tratar de um animal grande, bastante forte e com o raciocínio rápido.
Tônia do Embu, ceramista e artista discípula do mestre Sakai, um dos mais importantes terracotistas do Brasil, parabenizou a todos e disse que a experiência mostrou um trabalho melhor que o outro. As peças serão levadas para queimar no forno do Memorial Sakai, garantindo, assim, durabilidade eterna.
A oficina foi acompanhada por Fernanda Zanetti Cinalli Giovanetti, coordenadora da Saúde Mental de Embu das Artes, Paula Bax, terapeuta ocupacional do Centro de Convivência Conviver e Laura Laranjeiras, terapeuta ocupacional do CAPS AD, além de duas munícipes vencedoras de edições anteriores do Prêmio Arthur Bispo do Rosário: Fidelcina Maria de Jesus Gallo e Ana Moura.
VIII Prêmio Atrhur Bispo do Rosário
Podem se inscrever artistas usuárias/os de serviços de saúde mental, que residam no Estado de São Paulo, cada uma/um com até duas obras em cada categoria: Esculturas/Instalações, Pinturas e Ilustrações, Fotografias, Literatura (Poesias, Contos, Crônicas e Textos) e Vídeos. Os prêmios são de até mil reais. Inscrições até 5 de janeiro de 2018 aqui.
Quem foi Arthur Bispo do Rosário?
O sergipano Arthur Bispo do Rosário (1911-1989) foi internado no dia 25 de janeiro de 1939 na Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, Rio de Janeiro. Viveu cinco décadas trancafiado. Negro, solteiro, de naturalidade desconhecida, sem parentes, sem profissão e com antecedentes criminais, foi diagnosticado com esquizofrenia paranóide.
Na Colônia produzia mantos e estandartes, bordados e miniaturas recobertos por fio azul, que obtinha desfiando o uniforme usado pelas/os internas/os. No início dos anos 60, morou isolado no sótão e desenvolveu grande parte de sua produção. Durante os 25 anos ininterruptos que passou sem sair do manicômio, produziu 804 obras.
Considerado um artista de vanguarda, criador de objetos tridimensionais e precursor do que viria se chamar instalação, suas obras já foram expostas em grandes museus do Brasil e do mundo.