Samu Regional: 4 anos de luta pela vida e contra os trotes

23/07/2015 - 0:00
Samu Regional: 4 anos de luta pela vida e contra os trotes
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No dia 30 de julho, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, o Samu Regional, com sede em Embu das Artes, completa quatro anos de atividades, período em que salvou vidas, treinou equipes, ampliou e aprimorou serviços. O Samu 192 registrou, do dia em que foi inaugurado (30/7/2011) até 30 de maio deste ano, 491.994 ligações, quase o número total de habitantes das cidades que atende (505.422), e teve de lidar com 75% de trotes. Nos restantes 25% ainda existem os casos que não são de emergência nem urgência. Resumindo: foram mais de 84 mil atendimentos feitos em quatro anos, em ambulâncias com suporte básico (68.009), suporte avançado (12.535) e de múltiplos meios (3.561), sendo 23.752 em Embu das Artes.

O Samu foi implantado por iniciativa do Consórcio Intermunicipal da Região Sudoeste da Grande São Paulo (Conisud), então presidido pelo prefeito de Embu das Artes, Prefeito, com a proposta de atender a população da cidade, de 240.230 habitantes, de Embu Guaçu (66.792), Itapecerica da Serra (151.349), Juquitiba (28.732) e São Lourenço da Serra (18.319). Nenhum dos municípios teria condições de ter o serviço médico, de emergência e urgência, de alto custo, isoladamente.

A maior parte dos casos atendidos pelas equipes do Samu Regional é clínica. Levantamento feito das ocorrências atendidas, em todas as cidades, em maio e junho, por exemplo, confirmam isso. Em maio, o total de atendimentos do Samu Regional chegou a 1.485, sendo 950 casos clínicos, 88 obstétricos, 53 pediátricos, 75 psiquiátricos, 14 traumas (causados por acidentes) e 305 traumas cirúrgicos (com remoção para cirurgia). Já, em junho, foram 1.395, sendo 879 casos clínicos, 88 obstétricos, 45 pediátricos, 59 psiquiátricos, 8 traumas e 316 traumas cirúrgicos.

Serviço especializado

Chegar a esses números não foi uma tarefa fácil. São a etapa final de um trabalho que começa com o primeiro atendimento das chamadas telefônicas do 192 feito pelo Técnico Auxiliar de Regulação Medica ( TARM), avaliada pelo médico regulador de plantão, que identifica o grau de gravidade do chamado e aciona o encaminhamento da ambulância.

Daniela Rocha, que está no Samu da cidade desde o começo, ao atender a ligação 192, faz uma rápida triagem, antes de transferir para o médico de plantão. “Peço endereço e ponto de referência, pergunto o que está acontecendo para passar ao médico com informações iniciais.” Depois do atendimento de Daniela e do médico ter concluído a necessidade de encaminhar ambulância, a radioperadora Cláudia Elaine Ferreira entra em cena. É um dos servidores que passam a solicitação do médico para a unidade que irá até a pessoa que aguarda ser socorrida.“Loco a viatura, passo para o condutor, às vezes oriento pelo mapa. Posso acompanhar pelo mapa onde ele está e mostrar o melhor caminho. Às vezes a prioridade é tão grande que oriento por rádio”, diz. Cláudia.

Segundo a secretária de Saúde, Sandra Magali Fihlie, mesmo ao longo dos quatro anos de atividades do Samu, ainda há uma falta de informação dos munícipes sobre a função do Serviço de Urgência e Emergência Médica, pré-hospitalar. Muitas vezes as ligações recebidas são de problemas que podem ser resolvidos na UBS, que não necessitam de uma ambulância.

“Percebo, no período em que estou aqui, que a população não consegue entender ou aceitar a finalidade de um serviço como o do Samu. Muitos ligam para o 192 erroneamente e não se conformam quando o médico explica que o caso não é de atendimento do Samu”, diz o coordenador do Samu, Antônio Onimaru. O Samu atende urgências de natureza traumática, clínica, pediátrica, cirúrgica, gineco-obstétrica e de saúde mental. “A pessoa tem dor de cabeça, liga para ambulância. O serviço não é para isso”, diz o médico.

“Quando ligo, sou atendida”, diz Edvânia

“Aqui perto da minha casa aparece gente doente, pessoal de rua, com problemas mentais. Já liguei para o Samu e em 15 minutos eles apareceram. Um dia teve de vir também o Corpo de Bombeiros para atender um doente mental que estava machucado aqui no mato. Tanto o Samu quanto os bombeiros têm ajudado bastante”, conta Edvânia das Graças Martins, moradora do bairro Santa Rita. Ela é uma espécie de porta-voz da família, dos vizinhos, do bairro. Nunca deixa de ser atendida pelo Samu e diz que, ao solicitar o serviço, é preciso “ser educado, falar corretamente o endereço, informar claramente o que está acontecendo”.   

“Outro caso que liguei para o Samu e fui atendida rapidamente foi quando minha vizinha passou mal. Liguei, expliquei e eles chegaram rápido. Outro dia foi minha prima: uma criança caiu no quintal, ela foi socorrer, caiu e machucou a perna, não conseguia colocar o pé no chão e ficou com falta de ar. Eles todos do Samu trataram a gente como se fosse uma criança. Era umas 2 horas da tarde e eles ficaram até as 6 com a gente no hospital, até o médico dizer que não precisava ir para outro lugar”, conta Edvânia, que encaminhou à Ouvidoria do município mensagem de elogio ao Samu de Embu das Artes.

Capacitação

Uma parceria entre o Samu Regional e a Prefeitura resultou no treinamento de primeiros socorros de professores, condutores e monitores da Secretaria Municipal de Educação, com resultados eficazes. Foram capacitados, pelo Núcleo de Educação Permanente, mais de 100 professores da rede municipal de ensino.

As professoras Hilda Bezerra da Silva Santos, da Escola Municipal Ipê, no Jd. Vazame, e a secretária da creche conveniada Santa Terezinha, no Jd. Santo Eduardo, Mônica Perrucini Felga, fizeram e já testaram o treinamento que receberam do Núcleo de Educação Permanente do Samu. Mônica socorreu uma criança de 4 anos que engasgou: “Quando olhei pra ela, estava roxa e não dava tempo de esperar pelo atendimento médico. Eu me mantive calma, fiz o procedimento que aprendi no Samu, ela desengasgou e ficou bem”.

A capacitação também é um recurso para tornar o serviço mais conhecido e treinar servidores do Samu. “Estamos acostumados a receber trotes. Quando a pessoa liga, pegamos o telefone e retornamos. Aí não atendem ou a gente ouve risos do outro lado da linha. Algumas pessoas até se informam sobre sintomas de AVC para fazer a ambulância ir até elas. Essas pessoas não têm consciência do quanto é importante o serviço do Samu, de que a gente salva vidas.”, conta Daniela Rocha.

No treinamento, ela também aprendeu a lidar com falsas chamadas, que só poderiam ser reduzidas, segundo o médico plantonista Carlos Marcos Buarque de Gusmão, com uma campanha de conscientização pela televisão. Isso ajudaria a evitar os trotes e permitiria às equipes do Samu trabalhar com mais tranquilidade, com ganho para o consumidor. “Se não for caso de emergência, orientamos; se for, depende da gravidade, para atendimento pelo tipo de equipe e ambulância adequado”, diz.

Samuzinho

A próxima estratégia da Prefeitura de Embu das Artes, para trazer mais conhecimento sobre a função do Samu, com toda sua complexidade, é criar o Samuzinho nas escolas municipais. Depois de instalado na cidade, o Samu passou por várias fases de aperfeiçoamento previstas. “O mais importante dos dois últimos anos é o Núcleo de Educação Permanente. Essa atividade não se vê. É um trabalho de treinamento das equipes e tem dado resultados”, informa Antônio Onimaru.

“É com muito orgulho que afirmamos que o Samu de Embu das Artes foi o primeiro Samu qualificado, que passou a receber mais recursos do governo federal,  no País e tem recebido elogios do Ministério da Saúde, assim como de nossa população, pois ele tem salvado muitas vidas”, afirma a secretária de Saúde. O Samu Regional fica na rua Pataxós, 109, Jardim Magali.

 

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