O abismo da educação no Brasil pode ser medido entre um seminário que reúne cerca de 3 mil pessoas (professores e outros educadores, pais, estudantes e a coletividade) e uma pequena escola em meio à selva amazônica, onde uma heróica professora ensinava 20 crianças de diferentes séries reunidas numa sala de aula improvisada. O caso foi contado pelo professor emérito da USP Dalmo Dallari, durante sua palestra “Direito à Educação e Dignidade Humana” na abertura do 8º Seminário de Educação de Embu das Artes – Direitos Humanos e Educação. Nos dias 16 e 17/10 o assunto foi tratado em conferências e seis mesas de interesse que detalharam temas como democracia, educação em valores e formação dos educadores com renomados especialistas, entre eles os professores da USP Nilson Machado, Ulisses Araújo e José Sérgio Carvalho, e o padre Jaime Crowe, presidente da Sociedade Santos Mártires. Na peça “Sobre Sonhos e Esperança”, a Companhia de Teatro para Pesquisa e Performance Arte Tangível inspirou-se no mestre Paulo Freire para mostrar como a pedagogia pode ser transformadora, sendo aplaudida de pé no lotado Auditório da Prefeitura.
Em suas andanças país afora, Dallari disse ter visto tanto exemplos de avanços quanto de descaso na educação. Embu, afirmou o professor, está no caminho certo, demonstrando através da realização periódica do seminário que prioriza a educação. O evento “contribui e é necessário para a qualidade do ensino”, destacou.
O prefeito Prefeito agradeceu ao público pelas conquistas da educação municipal e lembrou iniciativas implantadas ao longo de oito anos de gestão, algumas delas tidas como referência na área. “Melhoramos a merenda escolar, as condições de trabalho, a relação com o professor, elaboramos o Estatuto do Magistério – que é procurado como modelo por outros municípios – e foi feito junto com vocês, assegurando os direitos dos trabalhadores na educação. A eleição dos dirigentes nas escolas, Embu foi um dos primeiros municípios no Brasil a instituir”. Ele citou ainda outros projetos de destaque do município no campo da educação, como o Letras e Livros e Embu na Onda do Mar.
Para a secretária de Educação Rosimary Mendes de Matos, o encontro é uma forma de garantir que todos os envolvidos no processo educativo participem das discussões. Citando o professor Mílton Santos (1926-2001), renomado geógrafo e educador, a secretária afirmou que o seminário é uma semente que está plantada e possibilita avaliar “o que já caminhamos, onde chegamos e quando se trata de educação é preciso galgar novos espaços”, concluiu.
Respeitar a vida acima de tudo
O tema Educação e Direitos Humanos envolveu cada educador que compareceu ao 8º Seminário de Educação. Na manhã do último dia, o público teve a oportunidade de receber ensinamentos do padre irlandês Jaime Crowe que está no Brasil há 39 anos, sendo 17 deles vividos em Embu. Atualmente, Crowe é responsável pelo Fórum em Defesa da Vida e há mais de 13 anos o padre da Paróquia Santos Mártires, no Jardim Ângela, periferia de São Paulo, consegue mobilizar pessoas com o objetivo de difundir a cultura da paz. Segundo ele, existem seis pontos que devem ser trabalhados para que possamos alcançar a paz mundial: Respeitar a vida, Rejeitar toda violência, Ser generoso, Ouvir para compreender, Respeitar o planeta Terra e Redescobrir a solidariedade. “O mundo será melhor quando as pessoas de bem terem a mesma ousadia dos malfeitores”, destacou.
Pelo importante trabalho do religioso, a também palestrante professora Maria Stela Graciani (PUC-SP) sugeriu que o padre fosse indicado ao Prêmio Nobel da Paz. A idéia recebeu total apoio da secretária Rosimary Matos, que declarou empenhar-se para que a indicação seja efetivamente considerada.
À tarde, foi a vez da socióloga Margarida Genevois, fundadora e conselheira da Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos, compartilhar seus ensinamentos com a platéia superior a 1.000 pessoas. Margarida trabalhou 25 anos ao lado do arcebispo emérito de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, buscando sempre o diálogo e o amor para resolver os conflitos da humanidade. “O ser humano é único e insubstituível”, avaliou. Ao final de suas colocações, ela foi surpreendida pelo depoimento do secretário de Governo, Paulo Giannini, que lembrou a importante atuação de Margarida Bulhões nas negociações com o governo do Estado no final da década de 70, quando Giannini fazia parte de um grupo de trabalhadores desempregados que viram como única alternativa acampar em frente à Assembléia Legislativa de São Paulo. “Hoje eu estou aqui por conta desta figura doce e humilde que lá estava para dialogar conosco e tentar resolver da melhor forma possível nossos problemas”, relatou emocionado. Como forma de retribuir o carinho, Margarida disparou: “sempre me achei desimportante, mas agora vejo que meu trabalho valeu a pena”.
Realizado pela Prefeitura de Embu através da Secretaria de Educação, o Seminário contou com apresentações culturais de alunos da rede municipal de ensino e teve o apoio da Sisp Technology, Instituto Ciência Hoje, Banco do Brasil, Suzano Papel e Celulose, Atacadão Jandaia, Tecpro Frantur e Veneza Transporte. Dentro do conceito de sustentabilidade, foi oferecido um kit contendo uma bolsa, copo plástico, um livro do educador Paulo Freire, entre outros itens.
Daniela Karin
