A Festa de Santa Cruz é a mais antiga de Embu. O evento reúne uma série de apresentações que mesclam fé, religiosidade e cultura viva por meio da música, dança, teatro e culinária relacionadas aos festejos iniciados pelos padres jesuítas a partir do século XVII. Os festeiros rezam diante da Santa Cruz, ajoelhados ou não, beijam-na, acendem velas, cantam e dançam em adoração à Santa Cruz. Na tradicional Festa de Santa Cruz de Embu há o levantamento do mastro e os que desejam algo devem fazer o pedido ao seu pé, pois assim serão atendidos.
Embu cresceu sob a égide de Santa Cruz.
Segundo conta em seu livro "Embu: Terra das Artes e Berço das Tradições", Moacir Faria de Jordão descreve que ao fazerem seus inventários em 1624, os sesmeiros Fernão Dias e sua esposa Catarina Camacho, doaram grande parte de suas terras para a Companhia de Jesus sob a condição de que fosse feitas, anualmente, festas de adoração à Nossa Senhora do Rosário e também à Santa Cruz. Por isso, 1624 também é considerada data provável da fundação da aldeia de M´Boy. É também fato histórico que desde os tempos dos jesuítas (que permaneceram na região entre 1554 e 1759) os índios dançavam em frente à Igreja do Rosário.
Apesar de inicialmente religiosa, atualmente trata-se de uma festa pagã, onde o povo dirige a manifestação. Segundo o Dicionário do Folclore Brasileiro, de Luís da Câmara Cascudo, a adoração à Santa Cruz popularizou-se depressa entre a população indígena. A cruz é o símbolo maior do cristianismo, fincada pelos padres jesuítas nas praças centrais das tribos indígenas. Foi um dos artifícios utilizados pelos jesuítas para catequizar os índios, a partir da constatação da importância da dança na cultura dos índios. A estratégia foi adaptar a dança indígena "sarabaquê" para a festa de adoração à Santa Cruz. Santa curuzu dos guarani e santa curuçá dos tupi, manifestações religiosas decorrentes da cristianização dos povos indígenas, figuravam no devocionário mameluco, mestiço e caboclo.
Na Adoração à Santa Cruz, o próprio povo dirige a celebração, não há intervenção eclesiástica. O capelão, que é um paisano, é o encarregado de cantar os versos de louvor. Por ocasião do IV Centenário de São Paulo, em 1954, a dança de Santa Cruz foi considerada contribuição da cultura índio-jesuítica para a formação do estado de São Paulo.
Consta do livro "Embu: Terra das Artes e Berço de Tradições" que a festa era realizada na antiga capelinha de Santa Cruz, onde em fins de 1934 se construiu a Capela de São Lázaro. Também já foi realizada no Largo 21 de Abril e mais tarde passou para o Cercado Grande, onde se pretendia construir a Capela de Santa Cruz, substituída pelo atual Cruzeiro.
Canto e dança
Danças folclóricas, dentre as quais, destaca-se o "Chimarrete", são o charme da Festa de Santa Cruz. A participação mais importante nesta dança é a do violeiro, que atua como uma espécie de mestre. Versos são cantados livremente tanto pelo violeiro como por participantes, sendo em geral quadrinhas conhecidas.
Os participantes da dança da Santa Cruz posicionam-se em duas filas indianas, sendo que o violeiro principal fica na esquerda, tendo um outro violeiro à direita. A dança não exige indumentária especial, mas segundo a tradição, existe uma indumentária para os adoradores, o que não impede que todos os presentes à festa dancem juntos. A apresentação começa com sapateados e bater de palmas e prossegue com um vaivém de cantos e palmas realizados a cada final de estrófe da música de adoração. O encerramento do canto é sempre com o VIVA A SANTA CRUZ!.
Flores de papel coloridas
Tanto a cruz quanto a bandeira são enfeitadas de flores de papel crepon por suas respectivas madrinhas, que são pessoas da comunidade que há muito tempo participam da festa. Elas significam a busca da beleza e a valorização da própria cruz, uma demonstração da fé depositada na Santa Cruz.
Mastro
O mastro é um elemento sempre presente, com referências ligando-o à fertilidade do solo e às colheitas fartas, também usado para reverenciar as forças vivas da fecundação das sementes. Outras culturas acreditam que esses mastros enfeitados são mágicas ligações entre o céu e a terra ou, ainda, como os povos indígenas brasileiros acreditavam, simplesmente espantavam os maus ares. Na ponta do mastro é colocada a Sagrada Cruz, devidamente enfeitada.
Bandeira e estandarte
O estandarte da Santa Cruz acompanha a procissão, juntamente com a "bandeira de moldura", que será levantada no mastro. A bandeira significa a presença simbólica, a solidariedade e a oficialização de todo o grupo.
Bebida típica
Segundo Rossini Tavares de Lima, no livro Folclore das Festas Cíclicas, a bebida típica da festa de Santa Cruz é a que se chama "pau-a-pique". Ela é feita alguns dias antes da festa, em pequena quantidade, do seguinte modo: juntar meio quilo de gengibre socado, 200 g de erva-dose, 300 g de canela em casca, uma pitada de cravo moído e um pouco de noz-moscada. Coar, juntar pinga a gosto, um a dois litros, levar ao fogo até abrir fervura. Engarrafar e deixar descansar até a hora de servir.
Procissão das Rezadeiras de Embu
Há 13 anos, o grupo faz a abertura da Festa de Santa Cruz, com a procissão e a reza do terço. Ligado à Igreja Católica, o grupo de rezadeiras existe há 30 anos e hoje é composto por cerca de 15 pessoas que se reúnem todas as semanas, visitam as casas das pessoas para rezar o terço, fazer novenas e conversar. Coordenadas por Aparecida José Carpi Rodrigues, as rezadeiras este ano também pretendem fazer a ladainha de Nossa Senhora.
Dança de Adoração à Santa Cruz Embu das Artes
É uma manifestação popular que remonta ao tempo dos jesuítas e perdura até hoje no município, sempre com o ingresso de jovens brincantes. O grupo principal existe há muitos anos e atualmente é comandado por Noêmia Cachoeira, filha da saudosa dona Elísia Cachoeira. Os 60 integrantes do Grupo de Adoração à Santa Cruz, incluindo jovens adoradores, apresentam-se nas festas do município de Embu e em eventos como o Revelando São Paulo.
Folia de Reis do Marajoara
Fundado há 60 anos pela comunidade católica do bairro Santa Clara/ Marajoara, de Embu das Artes, o grupo é formado por 20 pessoas e se apresenta dentro e fora do município. A Folia de Reis é uma festa religiosa de origem portuguesa, que chegou ao Brasil no século XVIII. De 24 de dezembro a 6 de janeiro, músicos e cantadores, vestindo roupas coloridas e entoando versos, percorrem as ruas da cidade, anunciam o nascimento do menino Jesus e homenageiam os Reis Magos.
Capela de Santa Cruz
A capela é um sonho de um grupo de moradores da Vila Cercado Grande desde os anos 60, liderado pelo mestre Sakai de Embu. Segundo a ceramista e coordenadora do Memorial Sakai e moradora do bairro, Tonia do Embu, naquela época, a vila tinha poucas casas, algumas em estilo caipira, com seus quintais, chaminés, fogões a lenha, cavalos e burros amarrados nos portões ou charretes em posição de descanso. A maioria das residências mostrava nas fachadas a origem italiana de seus moradores. Após quase 50 anos, a Capela de Santa Cruz é realidade junto ao Memorial Sakai, outra preciosidade da cidade. Com 50m² , ela tem no altar uma cruz de madeira ladeada por dois anjos em terracota, saudando-a com suas violas, de autoria de Helaine Malca. A decoração da capela foi feita pelo artista plástico José Luiz Alemãn.
Dona Elísia Cachoeira (in memorian)
Embu das Artes perdeu Elísia Maria de Jesus, mais conhecida como Dona Elísia Cachoeira. Ela tinha 98 anos e faleceu de aneurisma dia 19 de outubro de 2007. Conhecida por ser uma das grandes incentivadoras da Festa de Adoração à Santa Cruz juntamente com suas irmãs, ela deixou nove filhas, 28 netos, 61 bisnetos, 30 trinetos e um tataraneto. Dona Elísia foi sepultada no Cemitério do Rosário, no Centro de Embu.
Sociedade Amigos Violeiros de Embu (Save)
Fundada em 1998, a entidade mantém viva a música caipira. A idéia surgiu para preservar antigos cantores e lançar novos talentos da cidade e região que, segundo os fundadores, tem tradição na música regional. Hoje, reúne 27 duplas sertanejas e cerca de 80 pessoas, entre violeiros, colaboradores e simpatizantes, que tocam desde música considerada “de raiz”, canções caipiras feitas até os anos 70 até reinterpretações de duplas atuais.
Folia de Boi da Escola Municipal Astrogilda
Desde 2005, alunos da rede municipal de ensino de Embu, por meio do Núcleo Arte, têm a oportunidade de conhecer a cultura de outros estados através do projeto Encontro dos Bois. Aulas teóricas e práticas e encenações conforme a tradição aproximam as crianças da cultura popular de São Paulo, Parintins, Piauí, Maranhão, Amazonas e Pernambuco. O projeto também envolve a comunidade que trabalha na produção e confecção de bois característicos de todas as regiões do país, resgatando uma das mais ricas manifestações do folclore brasileiro.
Adoração de Santa Cruz de Carapicuíba
A Aldeia de Carapicuíba é célebre pela tradicional Festa de Santa Cruz que se realiza, anualmente. A festa origina-se da época da colonização e catequese dos indígenas, onde a principal atração é a dança de Santa Cruz, Roda e Despedida da Santa Cruz. Na adoração, os tocadores iniciam sua caminhada para frente da igreja, toda enfeitada. O povo se aglomera atrás dos músicos e começa a adoração, com o violeiro chefe iniciando o cântico.
Saudação
Adoração à Santa Cruz de Embu
(contada antigamente por Nhô Virgílio, já falecido)
Eu vi no alto da cruz
Meu Jesus crucificado
Alto da cruz
Meu Jesus crucificado
Bradando seu Pai eterno
Porque eu tinha abandonado
Seu Pai eterno, eterno
Porque eu tinha abandonado
Quem dirá a Bom Jesus
Chega a esta cruz também
A Bom Jesus
Chega a esta cruz também
Onde Jesus com seu sangue
Firma nóis da confiança
Com seu sangue
Firma nóis da confiança
Deus te salve cruz sagrada
Nossa única esperança
Cruz sagrada
Nossa única esperança
Para que na nossa graça
Gozemo na glória amém
Na nossa graça gozemo
Glória amém
Não houve mulher nem homem
Que seu brado acolhesse
Acolheu a Madalena
Porque todos vos seguisse
Por cima deste cruzeiro
Tem um arquinho de rosa
Adoremo a Santa Cruz
Santa Cruz tão milagrosa
Vamo dar a despedida
Como deu Cristo em Belém
A despedida
Como deu Cristo em Belém
Santa Cruz que nos ajuda
Para até o ano que vem
Que nos ajude
Para até o ano que vem
Vamo dar a despedida
Em louvor à Santa Cruz
A Santa Cruz
Para sempre amém Jesus