Foi em clima pacífico e familiar que a tradicional Festa de Santa Cruz ocorreu em Embu das Artes. O evento organizado em parceria pelo Governo Municipal, por meio da Secretaria de Cultura, e a comunidade local, atraiu centenas de visitantes. Em 2014, o festejo popular ganhou ares especiais. Além de celebrar o centenário do mestre Sakai, um dos seus incentivadores, a Festa retornou ao seu berço de origem: o Cruzeiro da Paz.
Para o secretário de Cultura, Alan Leão, o evento relembra e valoriza as pessoas e a cultura local: “A Festa é um espaço de comunhão, um entroncamento de raízes culturais. O trança fita, a dança, os violeiros, a gastronomia, relembram, valorizam e disseminam o que é nosso, mostram que a cultura está viva. O Governo Municipal tem investido muito na valorização desses aspectos, seja por meio da confecção dos trajes e figurinos, da cessão de espaço e professores para os ensaios ou do suporte para a realização do evento”.
Em seu discurso, a coordenadora do Memorial Sakai e uma das organizadoras do evento, Tônia do Embu, relembrou um pouco da história e da luta dos pioneiros da Festa de Santa Cruz, pela preservação das tradições e pela construção do espaço que, hoje, abriga além do Cruzeiro da Paz e da Capela de Santa Cruz, o Memorial Sakai e o Centro de Referência da Juventude (CRJ). Emocionada, Tônia afirmou: “Pela nossa raiz, pela nossa cultura, a Festa de Santa Cruz não pode deixar de ser realizada neste lugar”.
Para a dupla Pinheiro e Pinheiral, a realização da Festa de Santa Cruz é sempre bem-vinda por ser um espaço importante de divulgação da música de raiz. A realização da festa no Memorial Sakai também foi festejada pelo presidente do Clube Trança Fita Capela São Pedro, de Vargem Grande Paulista, Jorge Feliciano Pereira. “Nosso grupo já se apresentou em São Paulo, São José dos Campos e algumas vezes aqui. A música e a dança dos 12 em volta do mastro é uma oração. Representa Cristo e seus apóstolos”, compara.
Já o mestre da Folia de Reis Marajoara, Nilton Silva, relembrou as origens e a importância do grupo para a cidade: “A Folia de Reis Marajoara surgiu há 40 anos, com o mestre Silvio da Viola, que por mais de 20 anos participou da abertura da Festa de Santa Cruz. Antes de mim, outros mestres também passaram pelo grupo. Era um desejo do Silvio que a Folia de Reis Marajoara não acabasse e nós lutamos por isso. Atualmente, o grupo participa de encontros de Folia de Reis por todo o Estado”.
Noêmia Gonçalves da Luz, 86, tem uma longa trajetória na Festa de Santa Cruz, filha de José Gonçalves Rodrigues e Elísia Maria de Jesus, idealizadores do evento e conhecidos como José e Elísia Cachoeira, ela cresceu em meio à festividade e relembra: “Meu pai nunca nos deixou dançar em bailes, mas na Festa de Santa Cruz eu sempre dancei, participo desde menina. Éramos nove irmãs, hoje somos apenas oito. Além de mim, também participam minhas irmãs Jandira, Cleide, Amélia, Iracema e minha filha, Dirce”.
Quando questionada sobre as cantigas e danças favoritas Noêmia não hesita ao responder: “Tem a adoração, o chimarrete, a cirandinha e a cana verde, eu adoro todas. Todas são as minhas favoritas”. De mãe para filha e de avó para neta, assim as tradições atravessam gerações na família Cachoeira. Dirce é a terceira geração dessa história e fala com apreensão sobre o cultivo das tradições: “Eu aprendi com a minha avó, ela foi minha maior incentivadora. Cresci ouvindo e vendo o envolvimento e a preocupação dela em não deixar essa festa morrer. A Festa já teve momentos de declínio, mas graças a incentivadores, como a Tônia, voltou a crescer. Agora, a preocupação é com as novas gerações, com a renovação dos participantes”.
Mas, Dirce não precisa se preocupar. Desde 2007, o Governo Municipal mantém o projeto Adoradores Mirins que, em parceria com as escolas municipais, com os Violeiros de Embu e a Secretaria de Cultura, promove o ensino de danças tradicionais. Este ano, foi a vez dos alunos do 2º ano, da Escola Municipal Mauro Ferreira, darem sua contribuição para a festividade.
Bortolo Travessin, 80, foi ao evento acompanhado da esposa Guiomar, do filho Alan, da nora Renata e da neta Elisa. Participante assíduo da Festa de Santa Cruz ele garante: “A Festa está bem organizada, achei bom ela ter voltado para cá. Eu conheço esse lugar desde que não tinha nada, quando era apenas uma capoeira, por várias vezes enfeitamos o mastro na minha casa e trouxemos até aqui rezando. Não há um lugar melhor do que esse para essa Festa”.
Os jovens Leonardo de Souza e Amanda Maevsky, de Carapicuíba, também prestigiaram o evento: “Venho desde pequeno, gosto muito. Acho legal manter essas tradições. É a nossa cultura, não dá para esquecer”, disse Leonardo.
Mariana Albuquerque também é da nova geração, veio de São Paulo para a festa, e de novo se emocionou: “Tenho família aqui e sempre é uma renovação. Aproveito para sentir essa coisa da religiosidade, da tradição, que a gente deixa prá lá o ano todo”.
Os três dias de Festa foram regados a cultura regional. Começou com a procissão em homenagem a Nossa Senhora do Rosário, partindo do Largo dos Jesuítas, em frente ao Museu de Arte Sacra. Teve terço e levantamento do mastro com a bandeira da festa, como rege a tradição. Contou ainda, com a participação de grupos como Adoradores de Embu das Artes, Associação Amigos Violeiros de Embu (Assave), Sanza, Adoradores de Carapicuíba, Jongo Embu das Artes, Rennis e Banda, Adoradores Escola Municipal Mauro Ferreira, Congada de São Bernardo, Trança Fita de Vargem Grande Paulista, Catira de Juquitiba, Folia de Reis Marajoara, Trio Marajoara, das duplas Pinheiro e Pinheiral, Wagner e Walmir e do maestro Élcio Dias. Além, de barracas com pratos e bebidas típicas.