Cultura urbana ocupa as ruas no Encontrão de Embu das Artes

19/05/2015 - 0:00
Cultura urbana ocupa as ruas no Encontrão de Embu das Artes
Acessibilidade

O 2º Encontrão de Cultura Urbana reuniu black music, grafite, MCs, djs, break dance e debates num só evento pelas ruas do Jd. Santa Tereza, em Embu das Artes, durante o sábado (16/5). À noite, diversos grupos e artistas de hip hop se apresentaram, como Fernandinho Beat Box, Jihad Brasil, Carlos Bantu (de Moçambique), Fato Consumado, entre outros.

O encontro fez parte da programação do Mês da Cultura Urbana em uma parceria entre Secretaria Municipal de Cultura e o Núcleo de Hip Hop Zumaluma.

“Antigamente o hip hop era colocado em segundo plano, quando classificado como cultura popular, quando na verdade sempre foi cultura urbana, como é reconhecido hoje. O Encontrão é isso, a ideia de aglutinar toda essa manifestação artística de rua, até mesmo do skate, do punk e do reggae”, disse o presidente da Zumaluma, Kaab “Vulto”.

Segundo Vulto, desde os anos 80 o hip hop vem desenvolvendo uma função social relevante, agregando e ampliando militantes. De lá pra cá, surgiram instituições que sabem dialogar com a linguagem das comunidades, o que muitas vezes o meio acadêmico não consegue dar conta. Atua nas escolas públicas, ensinando e conscientizando por meio da cultura hip hop. “Alunos nossos tornaram-se professores do Zumaluma”, afirmou.

“O hip hop tem voz e caminha com as próprias pernas. Somos livres e trabalhamos por amor.Tudo o que tenho devo a Alá (ele é muçulmano) e à cultura de rua que me manteve íntegro”, explicou Vulto, que lembrou dos primórdios da entidade, quando abriu uma biblioteca na Comunidade Santarém, por acreditar que a leitura era importante para o crescimento pessoal.

Vulto é também MC, integrante do Jihad Brasil, grupo de hip hop que aborda a realidade social brasileira e temas como o racismo e o preconceito contra o islamismo. “Não pregamos religião, apenas queremos mostrar que as pessoas desenvolvem uma visão equivocada dos fatos por desinformação”.

Clique aqui e leia reportagem do grupo no portal da revista Veja.

Arte nas ruas

As paredes do bairro ganharam cores e beleza com atuação de grafiteiros e grafiteiras. Entre eles, percebe-se que, além do fomento social, a prática estimula as potencialidades artísticas e revela talentos.

É o caso de Magros, 29, grafiteiro há 16 anos e arte-educador. “Desenho desde os 4 anos de idade. Meu interesse surgiu quando andava de skate e observava o grafite”, declarou. Para ele, o Encontrão fortalece a arte e dá visibilidade para o morador conhecer, despertar e valorizar seu trabalho. “É fundamental também dar continuidade a essa cultura para as próximas gerações”, completou.

Fany, 19, estudante de audiovisual, usa o spray para comunicar e transformar espaços: “Eu fotografava e me atraí pelo grafite quando comecei a ir ao Zumaluma, e essa experiência me ajudou até a mudar minha postura diante da vida”.

“Pra mim é um estilo de vida e escolhi o grafite como carreira profissional”, falou Crica, 31, que é design e pinta desde 2001: “A partir dele ganhei amigos, passei a entender mais o ser humano e aprendi a lidar melhor com determinadas situações do cotidiano”.

Ali próximo, o palco já estava armado para receber os MCs, djs e b-boys (dançarinos de break) com o som rolando.

Na pista quadriculada postada em frente ao palco, o b-boy Turbão, 33, aquecia e fazia os seus primeiros movimentos. “Tem 20 anos que danço e posso dizer que o break é minha vida, pois me trouxe felicidade e me deu sustentação emocional. Hoje vivo disso, dou aulas e trabalho em eventos”, destacou.

O dj Ducando, 37, é artista das pickups há 22 anos: “Ser dj é como ser um missionário, levar o aprendizado, a história e a qualidade das músicas antigas a outras pessoas, principalmente às mais novas”.

Sobre a Zumaluma

Fundado em 1998, o espaço tornou-se um núcleo onde oferece oficinas de hip hop, canto, instrumentos musicais (violão e violino e percussão), capoeira, dança de rua, MC, dj, break, grafite e aulas de informática, atendendo cerca de 150 pessoas.

O presidente da Zumaluma, Kaab “Vulto”, milita há 20 anos no movimento negro e explicou que o nome da entidade é uma homenagem inspirada nas iniciais dos nomes dos líderes negros, Zumbi dos Palmares, Malcom X, Martin Luther King e Mandela.

----
Compartilhe nas redes sociais