Na região metropolitana de São Paulo, uma pequena cidade, conhecida por sua vocação artística, destaca-se pelos bons resultados que vem obtendo no sistema público de saúde. Desde 2013, com a adesão ao Programa Mais Médicos, Embu das Artes, município com 240 mil habitantes, ampliou em cerca de 60% o número de consultas médicas e elevou a cobertura da atenção básica de 49,9% para 58% em 2015, conforme dados da secretaria de saúde. Um quadro positivo, pintado a várias mãos, com a participação de 20 profissionais do Mais Médicos – “especialistas em gente”, como já se convencionou dizer. Verdadeiros artistas do cuidado, esses profissionais estão fazendo a diferença para o embuenses.
Reconhecida como estância turística pelo governo do estado de São Paulo, título concedido a municípios com determinados aspectos naturais e culturais, Embu das Artes foi um polo hippie nos anos 60, ocasião em que surgiu a tradicional Feira de Artes e Artesanato. A cidade, no entanto, começou a se destacar muito antes, na década de 30, quando o artista plástico local Cássio M´Boy (1896-1986) conquistou projeção internacional e, mais tarde, ao revelar Tadakiyo Sakai (1914-1981), considerado o maior escultor em terracota do Brasil.
Com reforço na atenção básica, município reduziu em 3,69% consultas em unidades de urgência e emergência
Em meio a tanta inspiração artística, Embu das Artes enfrentava algumas dificuldades para encontrar médicos que se fixassem na cidade para atuar nas equipes de Saúde da Família, aspecto fundamental para melhorar a qualidade de vida da população. “Sempre foi muito difícil conseguir médico, porque não temos como concorrer com o salário de outras cidades mais ricas da região metropolitana. O programa Mais Médicos trouxe para a cidade a possibilidade de ofertar atendimento”, comenta o prefeito, Prefeito.
Atualmente, os profissionais do Mais Médicos estão presentes, em horário integral, em 11 das 16 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) da cidade. Com esse reforço, e com a equipe de médicos pela primeira vez completa, o município também conseguiu melhorar o acompanhamento dos portadores de doenças crônicas e reduzir a subnotificação de casos. O total de pacientes identificados como hipertensos saltou 280%, de 3.307 em janeiro de 2012 para 9.262 em fevereiro de 2015. Pessoas cadastradas com diabetes passaram de 887 em janeiro de 2012 para 2.728 em novembro do ano passado, um aumento superior a 307%. Com o acompanhamento desses pacientes, que antes não podiam contar com esse cuidado ou não procuravam o serviço de saúde, o número de consultas em unidades de urgência e emergência caiu 3,69% entre 2013 e 2014, passando de 388.036 para 373.739, uma redução de cerca de 14 mil atendimentos de emergência ao longo de um ano, o equivalente a pouco mais de 38 casos por dia, que passaram a ser evitados com o acompanhamento preventivo e o reforço na atenção básica. “Mais importante do que curar doenças é evitar que as pessoas fiquem doentes. Queremos que as pessoas tenham os postos de saúde como locais de promoção de saúde”, diz o prefeito.
Médica realiza 32 consultas por dia
Em novembro, a médica cubana Maria Izabel Guevara completará dois anos de atuação na UBS Nossa Senhora de Fátima, situada em um bairro da periferia de Embu das Artes. Ela e outras colegas optaram por morar na mesma localidade, não apenas por ser prático, mas porque assim podem compreender melhor as pessoas e perceber as formas mais adequadas para ajuda-las. “É mais fácil conhecer a população que atendo morando no mesmo bairro, assim como fazemos em Cuba”, conta Maria Izabel, que antes de chegar ao Brasil, também atuou por oito anos no Barrio Adentro, programa venezuelano similar ao Saúde da Família.
Maria Izabel realiza, em média, 32 consultas por dia e 6 a 8 visitas domiciliares por semana. As duas equipes de Saúde da Família das quais fazem parte a médica e sua colega conterrânea Irina são responsáveis pelo atendimento a uma população de cerca de dez mil habitantes, entre os quais, está a babá Lucia Brito dos Santos (55). “Ela é muito atenciosa e muito competente”, afirma Lucia, pouco antes de ter sua quarta consulta com a Dra. Maria Izabel.
“Todo profissional de saúde tem que ser um pouco artista”
O prefeito Prefeito conta que, além das mudanças objetivas no quadro da saúde local, percebe-se que os médicos do programa recomendam a mudança de hábitos prejudiciais à saúde, fomentam a prática de exercícios físicos e a alimentação adequada para a prevenção de doenças crônicas, característica que resulta da orientação calcada na Medicina Geral da Família e Comunidade (MGFC), preconizada pelo Ministério da Saúde.
Como meio para disseminar boas práticas de cuidado, a Dra. Maria Izabel recorre à formação de grupos, como os de gestantes, mães com crianças pequenas ou hipertensos. O grupo de idosos, inclusive, foi usado como estudo de caso pela médica no curso de especialização em MGFC, feito como parte das atividades do Programa Mais Médicos. A mesma segmentação é feita na marcação das consultas. Às sextas-feiras, por exemplo, são agendadas as consultas de rotina infantis. A médica explica que essa lógica ajuda a organizar o atendimento e a preparar melhor o consultório para receber os pacientes. No entanto, qualquer criança que precisar de atendimento em outros dias da semana também é atendida normalmente.
São diversas as estratégias às quais a médica recorre para cativar a população e ajudar as pessoas a cuidarem de sua saúde. E tem dado certo, como mostram os resultados do município. Muito suor em uma rotina puxada, mas, certamente, muita vocação. “Todo profissional da saúde tem que ser um pouco artista para poder conseguir que a população faça mudanças em seu estilo de vida, nas coisas que possam estar atrapalhando sua saúde”, brinca a médica.
fonte: Programa Mais Médicos – Governo Federal