"Eu nunca tinha ido a uma creche. Gostei de ver as crianças brincando, conhecer um ambiente diferente. Não vou mais esquecer as máquinas com aqueles produtos". As palavras de Maria de Lourdes Souza, usuária do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) ligado à Secretaria de Saúde de Embu das Artes, mostram a importância do tratamento terapêutico que valorize as relações humanas das pessoas em sofrimento psíquico. Maria de Lourdes ao lado de 23 colegas, acompanhados de 12 funcionários da mesma instituição, visitaram recentemente o Espaço Natura. Desenvolvida como uma oficina sociocultural, a atividade consiste em promover a integração dos usuários com outras pessoas e instituições fora do ambiente cotidiano. Segundo a assistente social Alberta Goes, coordenadora do CAPS, o tratamento oferecido aos usuários envolve além do processo terapêutico e medicamentoso, a convivência e reabilitação psicossocial em contato freqüente com a comunidade. "Através de oficinas como essa nosso objetivo é tentar diminuir o isolamento social, um dos principais sintomas dos transtornos mentais", observa a coordenadora.
A sede da empresa de cosméticos instalada em Cajamar numa área arborizada de 678.000 m², sendo 78.000 m² de área construída, é reconhecida pelo padrão internacional. Nada escapou aos olhares atentos e curiosos, sorrisos e comentários do grupo de visitantes. Todos observavam os espaços amplos e arborizados externos, projetados em harmonia com o ambiente interno, igualmente amplo, limpo, valorizado por paredes de vidro que denotam transparência e privilegiam a luminosidade. "É uma firma organizada, com pessoas atenciosas", comenta Maria Robelita de Sousa Brito. "Não estou envolvida no trabalho, mas tudo parece muito em ordem", diz Terezinha Teixeira da Silva.
A oportunidade de acompanhar momentaneamente os trabalhadores numa linha de produção industrial moderna foi destacada pelos usuários. "Eu gostei. Ver a fabricação de shampoos, perfumes, as pessoas bonitas foi muito bom. Notei que os funcionários têm roupas próprias de trabalho e as mães podem deixar os filhos na creche para trabalhar", detalha Neurismar Nunes de Oliveira. O usuário lembra ainda do imenso armazém vertical – o maior da América Latina – totalmente controlado por computadores, onde são armazenadas matérias-primas usadas nos produtos da Natura. Margarida Vitalino ressalta que gostou do passeio e de ver muitas pessoas trabalhando. De fato o Espaço Natura reúne 3100 colaboradores, como são chamados os funcionários da empresa. Já Elizabeth Maria da Conceição resume: "o lugar é bonito e foi bom".
O CAPS mantido pela Prefeitura de Embu das Artes é pioneiro entre 15 municípios que formam a Diretoria Regional de Saúde (DIR 5) do Estado de São Paulo; foi a primeira entidade do gênero recebida pela Natura, ainda em 2004. A pedido dos usuários, a instituição organizou a visita à fabricante de cosméticos pela segunda vez. Em média a Natura recepciona diariamente quatro grupos de visitantes, formados especialmente por revendedoras, universitários e investidores brasileiros e estrangeiros.
Criado aproximadamente em 1985 para suprir a demanda da região, o CAPS desde 2000 atende especificamente o município de Embu das Artes, destacando-se como uma referência por valorizar o atendimento qualitativo em saúde mental. Atualmente cerca de 200 usuários estão em tratamento intensivo, semi-intensivo e não-intensivo. Segundo Alberta, ainda com a perspectiva de tratar o usuário em sua comunidade, ampliando a sua circulação social, o CAPS realiza rotineiramente diversas atividades externas. Às sextas-feiras, por exemplo, o grupo faz caminhada pela cidade. A atividade tem como objetivo principal integrar o usuário ao ambiente social, quebrar estigmas, diminuir preconceitos e sensibilizar as pessoas em relação à saúde mental. De acordo com a enfermeira Janaina Cuban o foco do trabalho com os usuários "está na saúde e não na doença. Buscamos valorizar o lazer, trabalho, conhecimento cultural e a auto-estima do usuário para que ele valorize os cuidados a si mesmo".
Às quartas-feiras reúne-se o Grupo de Auto-estima que tem mais um assunto para conversar depois da oficina. "Atividades como essa contribuem com a melhora da qualidade de vida dos usuários, pois estamos levando-os para um espaço livre da doença", completa Helena Dourado, assistente social.