Foi num clima festivo e de muita emoção que gestores, usuários e colaboradores da rede de saúde mental do município realizaram o seminário Diálogos da Cidade em Liberdade: Atenção Psicossocial no Território, em 24 de novembro, no Centro Cultural Mestre Assis do Embu. O evento também marcou o encerramento do “Projeto Rede Preceptora – Percursos Formativos na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS)”, que possibilitou a implantação de uma política de saúde mental pautada na Reforma Psiquiátrica, Antimanicomial e na Redução de Danos, garantindo uma discussão voltada para a Atenção Psicossocial em cada ponto da nossa rede e para a defesa dos direitos humanos.
Ao longo do dia, depoimentos, intervenções culturais e exibições de vídeos reforçaram a importância do afeto e do acolhimento para o protagonismo desse público, assim como a criação de leis específicas que garantam direitos, como a recolocação no mercado de trabalho. “Estamos vendo aqui o resultado de mais de 16 anos de trabalho. O momento político é difícil, mas não podemos retroceder. Ainda precisamos brigar por muitas coisas” – disse Katia Paiva, coordenadora de saúde mental da cidade, que é referência nacional.
A secretária de Saúde, Sandra Fihlie Barbeiro, agradeceu toda a sua equipe pelo apoio que recebeu nos seus oito anos em que esteve à frente da pasta e se disse orgulhosa por trabalhar com pessoas comprometidas com o Sistema Único de Saúde (SUS), com a diversidade de gênero e, principalmente, por ter consciência política e técnica. “A saúde mental permeia a vida de todos. Louca foi a sociedade que internou essas pessoas. Quantos não morreram? Não podemos esmorecer. Precisamos continuar lutando pelos nossos ideais” – reforçou.
A psicóloga Katia Frediani, que já atuou no Juqueri, uma das mais antigas e maiores colônias psiquiátricas do Brasil, e fez parte do grupo de Nise da Silveira, renomada médica psiquiatra brasileira, aluna de Carl Jung, contrária às formas agressivas de tratamento de sua época, tais como o confinamento em hospitais psiquiátricos, eletrochoque, insulinoterapia e lobotomia, se emocionou varias vezes durante o seminário. A fonoaudióloga Flavia Carotta defendeu o aprendizado na prática, na troca de ideia no dia-a-dia. “É durante a vida que a gente aprende. Do zero à morte. E a gente aprende melhor com as coisas boas” – contou.
Dona Marlene, que já foi usuária e trabalhou 15 anos no Centro de Convivência Conviver, continua doando amor. No Jardim Tomé, onde mora, oferece cursos de corte e costura e de artesanato a quem necessita de atenção. “Eu me sinto uma arvore frutífera. Me sinto também formada, só não tenho canudo”. Susana Aparecida Marques, agente comunitária de saúde da UBS Eufrásio Pereira da Costa, destacou que antes de qualquer coisa as pessoas precisam ser ouvidas. “Antes do remédio, tem outro remédio”.
Mario Mouro, militante ativista do Movimento da Luta Antimanicomial, alertou para as conquistas que podem ser perdidas por causa da mudança de governo no cenário nacional. Mesmo com importantes avanços, ainda temos pessoas internadas em manicômios pelo Brasil. Segundo o Censo 2014, são mais de 6.000 internos, de 2 a 68 anos.
Mariana Migliori, da Frente Estadual Antimanicomial de São Paulo, ressaltou que a política da RAPS só é possível ser implantada na rede pública, já que a particular só visa o lucro. Alessandro Campos, do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, destacou cinco pontos fundamentais para a promoção da saúde mental: humor, paciência, perseverança, justiça e decisão.
O ator Almir Rosa, que participou da mesa Direitos Humanos e Resistência, afirmou que a arte é uma forma de geração de afeto. Para o psicólogo da rede de Embu das Artes, Giovani Rente Paulino, o mundo deve ser baseado em respeito e direitos humanos. É necessário entender que vários fatores contribuem para que a saúde mental seja afetada, como a miséria. E finalizou: “Saúde não se vende, loucura não se prende”.
Embu das Artes atende mais de 7 mil pessoas através do Programa de Saúde Mental na Atenção Básica da RAPS. Essa atenção é feita por meio dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS 2 e CAPS AD), do Centro de Convivência, das Unidades Básicas de Saúde, do Consultório de Rua e intersetor, em consonância com a Política Nacional de Saúde Mental.
Profissionais do Projeto Rede Preceptora, que envolveu as cidades de Moju-PA, Teresina-PI, Guapimirim-RJ, Araçuaí-MG, Eunápolis-BA e Torres-RS prestigiaram o evento.
MostrArte no Mestre Assis
Após o seminário, foi aberta a MostrArte, organizada pela Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), Secretarias de Saúde e de Cultura e Memorial Sakai, inspirada nos trabalhos de Nise da Silveira. Participam moradores em situação de vulnerabilidade social e artistas convidados. A visitação vai até 15 de dezembro, de segunda a segunda, das 8 às 18h. A entrada é gratuita. O Centro Cultural Mestre Assis fica no Largo 21 de Abril, 29, Centro.