A razão de ser da cultura popular, expressada em diversas faces da arte, das tradições folclóricas, do patrimônio material e espiritual de um povo, encontrou em Solano Trindade sua marca de manifestação. “Solano”, originário do latim, significa “O vento do levante”. Há quem interprete a palavra como “Vento forte da África”. E foi como um forte vento afro-brasileiro que Solano Trindade movimentou os cenários da cultura popular por onde passou, principalmente entre os anos 30 e 60.
Francisco Solano Trindade nasceu no berço miscigenado da cultura popular, no bairro São José, Recife, Pernambuco, em 24 de julho de 1908. No Embu, ele chegou em 1961 e se apaixonou pela cidade, sendo um dos precursores do movimento que a transformaria em Embu das Artes. Poeta, escreveu Poemas D’uma Vida Simples (1944), Seis Tempos de Poesia (1958) e Cantares ao Meu Povo (1961). Ator, foi o primeiro a interpretar Orfeu da Conceição, de Vinícius de Moraes, no teatro, e participou de filmes como O Santo Milagroso, Agulha no Palheiro e, como co-produtor de Magia Verde, foi premiado em Cannes. Multifacetado, Solano foi também teatrólogo, folclorista, pintor. Sua obra recebeu elogios de intelectuais do porte de Sérgio Milliet, Carlos Drummond de Andrade, Roger Bastide, Otto Maria Carpeux, Darcy Ribeiro, entre outros. Dentre seus poemas, Tem Gente com Fome foi talvez o mais famoso e elogiado, tendo sido musicado em 1975 pelo grupo Secos & Molhados. A censura, no entanto, proibiu a execução e somente em 1980 Ney Matogrosso, já em carreira solo, incluiu a música em seu disco. O multiartista faleceu em fevereiro de 1974, deixando sua arte como legado.
Centenário Solano Trindade
Com o propósito de reviver Solano Trindade no seu centenário – a 24 de julho de 2008 – por meio da herança de sua nobre arte e cultura populares, a Prefeitura de Embu dará início à celebração com uma série de atividades que terá a cidade como palco, a partir de 4 de julho. Antecipando a comemoração, dois livros lançados dia 25/6 pela Editora Nova Alexandria resgatam a obra poética do artista: Poemas Antológicos de Solano Trindade e Tem Gente com Fome.
O Centenário Solano Trindade promete movimentar o cenário da cultura popular afro-brasileira. Reunindo os mais diversos e renomados grupos e artistas, o evento tem entre seus convidados os poetas da Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia), MC Trindade e Tiago Beatbox. Confira abaixo a programação e participe. É imperdível:
4/7 – Sexta-feira – Centro Cultural Embu das Artes – Lgo. 21 de Abril, 29 – Centro
19h – Abertura do Centenário Solano Trindade
Cerimônia de Lançamento do Selo e Carimbo Postal Personalizado Comemorativos do Centenário Solano Trindade
Show de Vítor da Trindade – Cantando Solano Trindade, Meu Avô! do Maracatu do Teatro Popular Solano Trindade e coquetel.
5/7 – Sábado – Centro Histórico
11h – Abertura do 2º Festival Gastronômico: o Centenário envolve os aromas e sabores da culinária de Embu, onde pratos de 9 restaurantes têm os nomes das poesias de Solano Trindade
12 e 13, 19 e 20/7 – sábados e domingos – Feiras livres, praças e Centro Histórico
Entre 10 e 17h – Treze poetas embuenses declamam poesias de Solano Trindade:
Andrea Neres, Arimatéia, David, Emerson Santana, Fábio, Guilherme, Luiz Fiais, Nei Silva, Noel, Paulo Tadeu, Solemar (Sol), Takumi Roberto e Toninho Poeta
Apresentações artísticas no Teatro Popular Solano Trindade
Avenida São Paulo, 100 – Centro
24/7 – quinta- feira – das 17 às 22h
Cia. Capulanas
Negronei e o Rosário
Vitor da Trindade – Cantando Solano Trindade, Meu Avô!
Teatro Popular Solano Trindade com a dança Coco de Alagoas e Pernambuco
25/7 – sexta-feira – das 17 às 22h
Negritos do Samba
Bloco do Barata
Maninho da Cuíca
Revista do Samba
Borba, Murilão e Silvio Modesto
Fabiana Cozza
Osvaldinho da Cuíca
26/7 – sábado – das 15 às 22h
Núcleo de Repertório do Teatromovimento
Moleques de Caxias
A Quatro Vozes (grupo vocal feminino)
Ballet Afro Koteban
Tião Carvalho (cantor, compositor, músico, dançarino e pesquisador maranhense)
Ilu Krugli, criador do Teatro Vento Forte
Naipe de Percussão do Teatro Popular Solano Trindade Ilá Dudu
Z’Africa Brasil
Teatro Popular Solano Trindade com a dança Jongos Mineiro, Fluminense e da Serrinha
Grupo de Capoeira de Angola Irmãos Guerreiros
27/7 – domingo – 13 às 21h
Encerramento
Solaninho
Frevo da Carla
Folia de Reis Gonçalves
Tropeiros da Serra
Congada de São Bernardo
Teatrando
Grupo Cupuaçu – Centro de Estudos de Danças Populares Brasileiras
Allan da Rosa e Aline Reis: Poesia e Acordeon
Ayrá Otá – Vítor da Trindade e Carlos Caçapava
Banda de Percussão Feminina Ilú Obá De Min
Setswana Music Dance (grupo de dança da África do Sul)
Mulungu
Bloco do Urucungos, Puítas e Quijengues
Teatro Popular Solano Trindade com a dança Maracatu
Tem gente com fome
“Trem sujo da Leopoldina,/ Correndo correndo,/Parece dizer:/ Tem gente com fome,/ Tem gente com fome,/ Tem gente com fome…/ Piiiii!/(…) Só nas estações,/Quando vai parando,/Lentamente, começa a dizer:/Se tem gente com fome,/Dai de comer…/Se tem gente com fome,/Dai de comer…/Mas o freio de ar,/Todo autoritário,/Manda o trem calar:/Psiuuuuu…”
Solano Trindade