Em um momento de tantos recursos disponíveis e em que mães disputam o mesmo espaço das filhas com metade de sua idade, uma exposição em Embu das Artes desperta curiosidade pelo trabalho de uma artista plástica não muito conhecida do grande público, mas admirada pelos amigos por seu talento, como Mestre Assis do Embu (1931-2006). Ele, ao lado de outros artistas, como Solano Trindade e Sakai de Embu, foi articulador do movimento artístico da cidade. “Eu a conheci quando ela já frequentava a Escola de Belas Artes em São Paulo, mas estava sempre por aqui”, diz Raquel Trindade, filha de Solano, e que esteve no Centro Cultural Mestre Assis do Embu, na abertura da Exposição Nair Opromolla, em 18/7.
A mostra, com quadros da fase de 1930 a 1950, é um prato cheio para as mulheres. Isso porque se a quase totalidade delas de posse de um pincel jamais se retrataria mais velha, Nair Opromolla (1914-1982) enfrentou esse desafio. A sua inquietude pode ser medida pelos autorretratos que pintou nesse período. Em uma de suas telas ela aparece com seios caídos, ancas angulosas, gordura abdominal e com olhos de quem viu tudo; anos depois, ela se pintou com rosto jovial e ar comportado, quase angelical; mais adiante, na tela sem título, aparece uma mulher de corpo escultural, flutuando no espaço, sendo beijada por um anjo.
Além de expor os conflitos, sonhos e devaneios femininos, a artista plástica Nair Opromolla deixou outras obras importantes. Em um de seus quadros critica Getúlio Vargas, com o olhar vigoroso de uma jovem que viveu o Estado Novo (1937/1945), em outros mostra índios, animais e a “Igreja e residência dos jesuítas em Embú” (hoje Museu de Arte Sacra, no Centro Histórico). Nessa coletânea, de 28 obras doadas a Embu das Artes pela família da artista em 1980, Nair parece instigar o espectador a segui-la por meio de cada pincelada.
A mostra foi aberta pelo secretário de Cultura de Embu, Paulo Oliveira, e contou com a presença do grupo Desencanto, de artistas de Trindade, GO, conduzido pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), do escocês Luiz Cagnin, morador estudioso de Embu, que revelou gostar mais da tela com o Museu de Arte Sacra de Embu. Já Raquel, diretora do Teatro Popular Solano Trindade (TPST), fez questão de registrar o momento com uma foto diante do navio negreiro de Nair Opromolla. Raquel Trindade é autora do livro “Embu, Aldeia M’Boy”, editora Nova América, que fala da colonização na região.
Conheça a grande artista Nair Opromolla na mostra de Embu das Artes, que vai até 16 de agosto, no Centro Cultural Mestre Assis do Embu (Largo 21 de Abril, 29, telefone 4781-4462), diariamente, das 9 às 18 horas.