Durante o seminário Os Desafios de uma Cidade Inclusiva, no Dia do Deficiente, 4/8, a plateia ficou agitada e teve de ser controlada por dedicados educadores. Um momento assim poderia até ser classificado como o encontro do desafio, tanto para especialistas quanto para as pessoas com deficiência que participaram do seminário, promovido pela Secretaria de Participação Cidadã, da Prefeitura de Embu das Artes. Foram debatidos assuntos de interesse da categoria, desde o cumprimento de leis específicas, para equiparar oportunidades e benefícios de pessoas com deficiência às sem deficiência, a uma visão diferenciada para a concepção de novos projetos para a cidade.
Com 260 mil habitantes, Embu tem hoje 23.593 pessoas com deficiência. Destas, 811 frequentam escolas, uma defasagem que acompanha a realidade nacional. São 24,6 milhões (14,4%) de pessoas com deficiência no País de 190 milhões. Com base em informações do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), das quase 5 milhões de pessoas de 0 a 24 anos com deficiência, somente 700 mil frequentam escolas. “No Estado de São Paulo são 50.580 beneficiários, sendo que 22.418 recebem o benefício na escola e 28.162 o recebem fora da escola”, afirmou Carla Mauche, coordenadora geral do Instituto Mais Diferenças, para demonstrar a necessidade de novas políticas que levem o deficiente para a escola e criação de um sistema mais justo de atendimento.
Pessoas como as que participaram do encontro no Centro Cultural de Embu, que mal sabem falar, se locomovem com dificuldade, não enxergam nem ouvem direito, formam o grupo de moradores inquietos, que cresce silenciosamente entre nós e pelo qual o Governo da Cidade de Embu das Artes quer fazer mais, segundo o secretário Pedro Pontual, de Participação Cidadã. “Precisamos saber onde estão essas pessoas, quem são, quais são suas necessidades, expectativas, aspirações e daí a importância do mapeamento das pessoas com deficiência que estamos realizando”, disse.
Para o secretário, uma das funções do poder público é articular e criar espaço de integração e troca de informações entre prefeitura, instituições e pessoas. “Isso é muito importante porque a política pública, para ser universal, proporcionar uma vida digna, uma sociedade inclusiva e felicidade, tem de reconhecer a diversidade entre os cidadãos. Pessoas com deficiência têm condições de gênero, origem étnico-raciais diferentes e é o reconhecimento dessa diversidade que a gente busca articular no núcleo de política estratégica para que cada vez mais as ações sejam dirigidas a idosos, adultos, adolescentes e crianças com deficiência.”
Juan Carlos Ramírez Mondejar, coordenador de Projeto da Associação para a Emancipação dos Deficientes de Embu (AEDE), lembrou que a inclusão deve ser pensada como um direito de todos, com ou sem deficiência. Quanto às pessoas com deficiência, disse que um dos pontos importantes é o uso correto da terminologia. “Às vezes alguém diz: meu filho é surdo-mudo. E não é isso, pois apresentar surdez não implica ser mudo. A mudez é outra deficiência, que não tem causa necessariamente na surdez. A inclusão é um caminho sem-fim, a cada dia há transformações, mudanças”, declarou.
Outra dica: a pessoa nunca é portadora, mas tem deficiência; mongolóide, retardados, educáveis, deficiência intelectual são outros termos que ficaram no passado e devem ser esquecidos na nova concepção de inclusão das pessoas com deficiência. Mais uma coisa: não substitua deficiência por necessidade educativa especial, pois não são termos sinônimos e, além disso, um superdotado também precisa de atendimento com recursos especiais, de acordo com Juan.
Para a educadora Luana Adão Rosa, do Centro de Convivência da Pessoa com Deficiência (CCPD), o mais importante é a conscientização da sociedade, para que aprenda a se relacionar com as pessoas com deficiência, não tenha receio de se aproximar delas, e a inclusão da família, com promoção de encontros contínuos, para que a pessoa com deficiência tenha mais atenção em casa. A exposição de desenhos dos alunos do CCPD e do Três AAA, que fez parte das comemorações do Dia Municipal do Deficiente, também é um exemplo de manifestação que favorece a sociabilidade das pessoas com deficiência.
Do encontro de comemoração do Dia Municipal do Deficiente participaram ainda Aurino Xavier, advogado da Associação de Atendimento ao Autista (AAA), os vereadores João Leite e Bete.