A esgrima por si só já colocaria Embu das Artes num seleto grupo de cidades brasileiras que oferecem a modalidade gratuitamente à população. O Governo Municipal, por meio da Secretaria de Esportes e Lazer, foi além, incluindo a esgrima paraolímpica entre as 26 modalidades do Programa Esporte Cidadão. No estado de São Paulo, por exemplo, Pirassununga é a precursora na modalidade e a capital gaúcha, Porto Alegre, se destaca nacionalmente, contando com cinco atletas na Seleção Brasileira de Esgrima em Cadeira de Rodas.
Davi Marques Matos, 6 anos, morador do Jardim Ísis Cristina, começou a praticar esgrima adaptada, em cadeira de rodas, há cerca de um mês no Complexo Educacional Municipal Valdelice Prass, no Parque Pirajuçara. Portador da síndrome de FFU – má formação congênita dos ossos fêmur, fíbula e ulna (um dos ossos do antebraço) – Davi é considerado o primeiro praticante da modalidade na categoria Infantil, até 9 anos, no Brasil, afirma seu professor e ex-atleta, Cláudio Gonçalves dos Santos, Claudinho, mestre d’Armas pela Escola de Educação Física do Exército.
Canhoto em função da deficiência, antes de começar as aulas Davi chegou a perguntar à mãe se poderia mesmo praticar o esporte por essa razão. Andréa Marques Matos, 31 anos, tranquilizou o filho e pediu que ele aguardasse a aula para conversar com o professor. Ao ver o menino empunhando o florete com a mão esquerda, Claudinho logo elogiou. Segundo ele, os principais campeões de esgrima do mundo são canhotos. Davi se conteve na frente do professor, mas bastou chegar em casa para, feliz da vida, comentar com a mãe o que seu mestre havia falado.
Apesar de jogar esgrima a tão pouco tempo, Davi já demonstra certa agilidade, destreza e capacidade de raciocínio. A mãe observou que antes ele não alongava o braço esquerdo como agora e que o esporte para seu filho está sendo “ótimo”. “Ele aprende muito rápido” – atesta o professor.
Graças ao tratamento que fez na AACD de Osasco, há cerca de dois anos Davi passou a andar e teve alta. Já na Sala de Apoio ao Estudante com Deficiência na Escola (SAEDE), do governo municipal, o menino tem o acompanhamento necessário.
Quem vê o pequenino Davi em sua cadeira de rodas não imagina do que ele é capaz. Em casa costuma dar cambalhotas, viradas e arrisca alguns movimentos da capoeira. “Ele gosta de bola, plantar bananeira, videogame, computador, está sempre bem-humorado, raramente irritado e é muito companheiro também” – conta a mãe. Andréa diz ainda que aprende muito com o filho. “Uma das coisas que eu sempre admirei nele é o objetivo. Eu sou tão indecisa, e ele é objetivo e determinado”.
A esgrima adaptada foi para Davi e sua família mais uma oportunidade de viver em plenitude, sem preconceitos. “A gente vive num mundo tão fechado, que não expande essas situações” – observa Andréa, que procurou e encontrou na esgrima adaptada o esporte adequado para Davi. Casada com o pintor de automóveis Ricardo Barros de Matos, ela é mãe também de Dérick Marques Souza, 15 anos. “Nós estamos muito felizes” – conclui.
Mestre Claudinho não esconde o entusiasmo com o crescente número de alunos em suas aulas de esgrima. Na modalidade adaptada, Davi joga com os novos amigos Jefferson Danilo dos Santos, 14 anos – aluno do Centro Municipal de Educação Especial Armando Vidigal – e com Felipe Nascimento Claudino, 13 anos, portador de neurofibromatose.
Há em todo o Brasil apenas cerca de 40 praticantes de esgrima em cadeira de rodas, e pouco mais de 500 esgrimistas convencionais. A informação foi publicada recentemente na edição 447 do Jornal da Unicamp. Segundo a reportagem e de acordo com o doutor em Educação Física, mestre Válber Lázaro Nazareth, “a esgrima adaptada está consolidada no país”.