Um café da manhã organizado pela Secretaria de Turismo reuniu os expositores no domingo, 31 de janeiro, para comemorar os 41 anos da Feira de Artes de Embu, uma das mais tradicionais do estado. A confraternização promoveu o encontro de representantes de todos os segmentos: artes plásticas, artesanato, gastronomia e verde. Relembraram as origens da Feira e puderam tratar de novas perspectivas, já que uma nova diretoria do Conselho Gestor acaba de tomar posse.
Alguns estavam entre os fundadores e outros, integrantes mais recentes, fazem o sucesso da Feira nos dias atuais, mantendo a proposta de perpetuar e projetar ainda mais como atração turística.
Florinda A. Talarico Chiandotti, expositora desde 1979, pinta arte naif
“Desde quando comecei a expor, muitos dos meu quadros foram para o exterior, pois a técnica naif atraía principalmente esse público. Ultimamente, também os brasileiros passaram a admirar. A Rússia foi o local mais distante para onde sei que levaram um quadro meu. E houve também um grupo de aeromoças coreanas que foram minhas freguesas frequentes, sempre levando minhas pinturas para presentear. É uma satisfação saber que minha arte agrada a tanta gente”, conta a expositora.
Hillmann Albrecht, vice presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Embu
“A parceria entre a ACISE e a Feira de Artes é de longa data. Uma iniciativa importante foi trazer o trailer de serviço de cartão de crédito, mas muito ainda pode ser feito. Queremos implantar a nova lei do micro empreendedor individual, que já está em apreciação na Câmara Legislativa, para que os expositores possam seguir uma regulamentação e, assim, ter benefícios como qualquer trabalhador. Mesmo os que não forem associados à ACISE poderão contar com assistência de um contador gratuitamente”, declara o empresário.
Antonio Martins, 86 anos, produtor das tradicionais de sandálias de couro, expõe na Feira há 35
“No início, eu fazia uns modelos (de sandálias) bem hippies, com tiras de couro, e também aqueles espelhos recortados, bem rústicos. Expunha na lona e encostado nas paredes do Museu (de Arte Sacra dos Jesuítas). Às vezes, quando chovia de repente, as pessoas compravam molhado mesmo. Naquele tempo nem tinha sacolinha, levavam embaixo do braço mesmo.” Atualmente, os filhos e até o genro trabalham no ofício da produção artesanal das sandálias que aprenderam com Antônio.
Luiz (Aloísio) César da Conceição, artesão de bijuterias, expõe desde 1965 com a esposa Vera e dois filhos
“Lembro-me de uma senhora francesa, que sempre que vinha ao Brasil, visitava a Feira e comprava brincos de todas as cores na minha banca. Ela dizia que ‘era a coisa mais bonita do Embu’. Ele se refere à Feira como uma grande família, especialmente pelos amigos que fez nas redondezas da barraca, na rua Nossa Senhora do Rosário. Comenta com saudosismo sobre a “caipirinha do domingo”, que era servida pelo “seu Nulo” (Manuel da Silva) e pela dona Alice, moradores da casa vizinha. “Quando chegava o fim da tarde, íamos pegar as crianças, que dormiam nos tapetes das lojas, e eram fotografados pelos turistas” – relembra.
Cristina Mas de Souza, 55 anos, é expositora há mais de 20 anos no segmento artesanato
“Estou na Feira há mais de 20 anos, sempre no segmento de brinquedos pedagógicos de madeira, confeccionados e pintados nos nós. Além de ser a forma de conseguir fazer uma vida material, comprar as coisas necessárias ao nosso dia a dia, foi fundamental para a criação da minha filha. E de uma forma agradável, porque gostamos de trabalhar de maneira independente, mas com disciplina. Nesse sentido, a Feira é antiga mas é moderna, porque hoje, o conceito de trabalho independente é cada vez mais aceito pela sociedade. O nosso trabalho na Feira não é solto, somos artesãos responsáveis, pagamos imposto e mantemos contato direto com os turistas. É uma atividade importantíssima para a cidade que é conhecida pela Feira de Embu das Artes. Eu fiz uma pesquisa há uns três anos, e 100% diziam que vinham a Embu por causa da Feira. Os outros atrativos vêm depois. Ela sobrevive praticamente sem publicidade, só por seu valor histórico”, relata.
Lindaurea Sá Freitas, artesã de reutilização de materiais para bijuterias, expõe há 4 anos com o marido
Da nova geração de expositores, ela e o marido são representantes da tendência da sustentabilidade e reaproveitamento de materiais. Eles ressaltam o prestígio da Feira como patrimônio regional e defendem que a comunidade se aproprie dela como principal atrativo da cidade. “A Feira é tão importante para o centro quanto para o município todo, porque é um grande referencial histórico e ainda gera renda e arrecadação”, afirma ela. Destacam ainda que a Feira de Embu é única, pois tem artigos de produção exclusiva e com conteúdo cultural que nenhuma outra feira tem.
Eduardo Kenji Takebayashi, 59 anos. É expositor desde 76 no segmento artes plásticas
“O que eu consegui realizar e mostrar do meu trabalho foi aqui na Feira de Embu das Artes. A Feira possibilitou construir minha vida, inclusive financeiramente. Sempre tirei minha sobrevivência da Feira. Faça chuva ou faça sol estou sempre expondo, em contato direto com o público. Tive muitos convites para vender meus quadros em galerias mas prefiro a Feira. Vêm muitos turistas estrangeiros que apreciam meus quadros e acho que já vendi mais de 5 mil quadros. Pinto sempre uma temática brasileira, de defesa da ecologia. A Feira é muito bonita, diferente da Praça da República. Aqui tem mais família, é muito tranquilo, um grande atrativo turístico da cidade”.
Sebastião J. Campos, expõe artesanato em bijuterias desde 1970
“Eu cheguei no Embu junto com Assis (Mestre Assis do Embu) e, já naquele tempo, a turma sonhava com a Feira reconhecida internacionalmente”, afirma Sebastião. Daquela época, os materiais que antes eram rústicos tiveram a interferência de recursos mais modernos e, hoje, ele usa a galvanoplastia para acompanhar as tendências modernas e aumentar a durabilidade. Tem muita história para contar das tardes diante da banca, como do “pé de vento” repentino, que espalhou seus materiais por todo lado.