O multiartista radicado no Embu (falecido em 1974), elogiado por intelectuais como Carlos Drummond de Andrade, Darcy Ribeiro, Sérgio Milliet, entre outros, completaria o centenário em 24 de julho. Para reverenciá-lo, a Prefeitura promove atividades artístico-culturais até o fim do mês (veja a programação na página de Turismo).
Solano Trindade não poderia deixar uma herança mais multirracial e cultural. A família Trindade mistura negros, brancos, amarelos, índios. “Papai já tinha a visão de que a gente se unisse a todas as raças, tanto que tenho netos ‘japonegro’, afro-germânico, e papai falava ‘tenha orgulho de ser negro e das nossas tradições’”, ressaltou Raquel, folclorista e artista plástica que herdou e transferiu para sua geração o talento do pai e também da mãe, Margarida Trindade. Ambos, em 1950, junto com Edson Carneiro fundaram no Rio de Janeiro o Teatro Popular Brasileiro, teatro folclórico de valorização da cultura popular. Ela lembrou ainda quando Solano chegou ao Embu, convidado por Sakai e Assis. “Ele ficou louco pelo Embu, achou que tudo que havia de ruim no mundo, Embu tinha de bom”. Das lições deixadas por Solano a Raquel e seus descendentes, uma é lembrada em especial. “Papai certa vez me disse: ‘não vou deixar nada de material. Se você gosta de arte filha, se entregue a ela. A arte é o alimento da alma’”.
Vítor da Trindade e banda cantam Solano
De fato, da arte a família Trindade extrai o alimento que a revigora. Talento os Trindade têm de sobra. Vítor da Trindade, no vocal – ao lado dos filhos Manu, bateria, e MC Trindade, vocal, do percussionista Carlos Caçapava e do baixista Beto Birger – apresentou poesias do avô Solano musicadas por ele. O projeto deve resultar num CD que inclui no repertório as excelentes “A Velhinha do Angu”, “Xangô”, “Poema à Mulher Negra” e “Navio Negreiro”. Segundo Vítor, antes as canções estavam intelectuais demais, depois ele foi descobrindo novos caminhos, adotando o estilo mais popular possível, como o avô gostaria que fosse.
Antes de apresentar o Maracatu do Teatro Popular Solano Trindade, Raquel Trindade já expressava sua emoção. “Eu sou a mulher mais feliz do mundo. Tenho a arte, filhos, netos maravilhosos, só não tenho dinheiro, mas aí seria covardia… Estou muito feliz”, falou à platéia formada por autoridades municipais e um público que lotou o Auditório Cassio M’Boy para prestigiar o evento.