"Embu está de parabéns, porque a parceria entre Saúde e Educação não é uma regra em todo o Estado". A frase de Nair Brito, do Centro de Referência de Tratamento DST/AIDS de São Paulo, ligado à Secretaria Estadual da Saúde, revela em que fase o município de Embu das Artes encontra-se na luta contra a AIDS. Em palestra durante o 1º Fórum AIDS e Sexualidade – Educação e Saúde em parceria, que reuniu cerca de 800 educadores, durante toda a segunda-feira (28/11), a médica disse que para a Saúde, a Educação é a grande parceira no trabalho de prevenção às Doenças Sexualmente Transmissíveis – DST/AIDS. "Sem essa parceria não teríamos conseguido nada", afirmou Wolff Rothstein, infectologista e coordenador do Programa DST/AIDS de Embu das Artes.
A pandemia de AIDS, segundo dados da Organização Mundial, atinge 40 milhões de portadores do vírus HIV, com três milhões de mortes em 2005, sendo metade crianças. Segundo o Unicef, a cada minuto uma criança menor de 15 anos morre devido à AIDS. De acordo com Wolff, a AIDS hoje "é uma doença crônica, que tem tratamento, mas muito grave se não for diagnosticada e tratada e, principalmente, que pode ser evitada, o que justifica todo o trabalho de prevenção".
Promovido pela Prefeitura de Embu das Artes, por meio da Secretaria de Saúde, o evento reuniu os participantes das oficinas de capacitação e prevenção às DST/AIDS no município, que neste ano priorizou o atendimento aos educadores das redes municipal, estadual e particular. Participaram do fórum: o prefeito, Prefeito, os secretários, Jorge Harada, da Saúde; Rosimary Mendes de Matos, da Educação, Cultura, Esporte e Lazer; Francisco Brito, da Cidadania e Assistência Social; a presidente da Câmara, Maria das Graças de Souza e o vereador Clidão do Táxi.
Também foi uma comemoração pelo Dia Mundial de Luta contra a AIDS, que acontece em 1º de dezembro, e apresentou o Projeto Educação Continuada em Orientação Sexual (Ecos), desenvolvido pelas secretarias municipais de saúde e educação, com apoio da Diretoria Regional de Ensino de Taboão da Serra, desde 2002.
Essa parceria atendeu durante este ano cerca de 1.500 profissionais da educação, por meio de oficinas de capacitação e prevenção às DST/AIDS. Estas ações junto às escolas municipais e estaduais estão previstas e aprovadas pelo Conselho Municipal de Saúde no Plano de Ações e Metas, com incentivo financeiro recebido do Programa Nacional de DST/AIDS, do Ministério da Saúde.
Participaram do fórum dez palestrantes, profissionais de reconhecido valor em suas respectivas áreas de atuação, sobre temas como drogas, violência, gravidez não planejada na adolescência, homossexualidade e a vulnerabilidade da mulher em relação ao HIV/AIDS. Segundo os organizadores do evento, as palestras complementaram a capacitação feita ao longo de 2005.
O uso de drogas e o avanço da violência e da doença entre as mulheres foram temas das palestras. Para a médica Cássia Baldini, da Universidade de São Paulo (USP), o consumo contemporâneo de drogas entre os jovens é uma questão política e assim deve ser tratado. "Ou colocamos a questão do uso de droga em sua dimensão macroeconômica/estrutural ou não avançaremos", acentuou, lembrando que o problema da droga é complexo, pois "está inserido no âmago da política neoliberal e da globalização, onde os jovens são submetidos a processos de socialização que não lhes permite entender o processo público, coletivo, onde os projetos são externos aos indivíduos e as drogas vêm responder às necessidades do prazer fugaz, imediato, propagado pela mídia".
Além de compreender melhor o universo do jovem, o médico Benito Lourenço explicou que para trabalhar com o jovem "é importante tomar as características dos adolescentes e usá-las a nosso favor, sem preconceito". Lembrou, ainda, que o tema prevenção nunca está encerrado entre os jovens "porque eles estão em constante transformação".
Nair Brito explicou que, em 25 anos de epidemia HIV/AIDS no Brasil, a propagação da doença está estabilizada entre os homens mas crescendo entre as mulheres. Ela acredita que já existe muita informação e conhecimento sobre a doença e que o controle da epidemia passa pela organização social e econômica do país, onde a pobreza é excludente, principalmente para mulheres, negros, índios, quilombolas e outras etnias. Segundo ela, as mulheres estão no grupo mais vulnerável porque a violência contra elas acontece em todo o mundo: 70% das mulheres vítimas de assassinato foram mortas por seus maridos. De acordo com a médica, dados do Ministério da Saúde revelam que problemas relacionados à gravidez são a principal causa de morte para mais de 500 mil mulheres, entre 15 e 44 anos de idade, no país.
Confessando-se pessimista mas não resignado, Jorge Artur Canfield Florianini, professor de História, membro da Comissão Estadual do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, e ex-funcionário da Febem, também falou sobre o consumo de drogas e alertou para o fato de a polícia "estar aprendendo cada vez mais lambari enquanto os tubarões da droga nadam de braçada". E falou sobre o cinismo da sociedade em relação às bebidas alcoólicas. Ele informou, ainda, que existe na Assembléia de São Paulo projeto "engavetado" para acabar com os bares localizados perto de escolas. Ele chamou a atenção dos educadores para o fato de o aluno ser o compromisso maior em sala de aula, "a luta pelas questões salariais e de condições de trabalho são legítimas mas devem ser discutidas por meio dos sindicatos", finalizou.