Aula da UNIFESP mostra como a saúde vem superando o “racismo institucional”

01/02/2012 - 0:00
Aula da UNIFESP mostra como a saúde vem superando o “racismo institucional”
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A
Prefeitura de Embu das Artes, em parceria com a UNIFESP, realizou a primeira
aula do curso de “Saúde da População Negra no Estado de São Paulo” , primeiro
curso oficial sobre o tema no Estado. A aula magna foi conduzida pelo doutor
Luis Eduardo Batista, pesquisador do Instituto de Saúde da Secretaria Estadual
de Saúde e que foi, durante 4 anos, coordenador de saúde do Comitê de Saúde da
População Negra do Estado de São Paulo.

A apresentação foi de
Marisa Araujo Silva, coordenadora do Centro de Referência da Mulher de Embu das
Artes. Segundo ela, essa aula foi uma introdução ao curso de extensão “Saúde da
população Negra”, que a Prefeitura está propondo para a Unifesp. O curso
de 60 horas terá um primeiro módulo sobre a história da África e da diáspora
africana e um segundo módulo sobre a metodologia de pesquisa nesse campo.
“Curso esse que será embasamento para um futuro curso de especialização.” –
disse ela. 

Além de
Marisa 
(que estava representando a coordenadora de Saúde da População Negra, doutora Regina Nogueira), participaram da apresentação do curso a gerente do Centro de
Especialidades Ivone Trindade, Andrea Fonseca, a secretária municipal de
saúde Sandra Fihlie Barreiro, o secretário da Participação Cidadã, Edson Bezerra Ferreira e seu adjunto, Paulo Vicente dos Reis. 

A
Prefeitura de Embu das Artes formou um grupo intersecretarial para a promoção
da igualdade racial, com vários profissionais diferentes, e que já promoveu
vários eventos, debates e discussões sobre os problemas relacionados à
discriminação por cor. O objetivo do grupo é formular e sistematizar propostas
de políticas de saúde da população negra  e a disseminação da informação e
conhecimento sobre a saúde, principalmente para a própria população negra que
continua sendo discriminada.  Segundo Regina Nogueira, esse grupo está em
processo de institucionalização e oficialização e será o responsável pelo curso
junto à UNIFESP, além da produção de artigos e eventos científicos.  

Andréa
Fonseca, gerente do Centro de Especialidades e UBS Valo Verde, onde funciona o
Núcleo de Anemia Falciforme, disse que o primeiro diagnóstico do grupo foi a da
invisibilidade da população negra nos postos de saúde e por isso, o primeiro
objetivo determinado, foi tornar visível essa população que busca os postos de
saúde. “O racismo é tão eficiente no Brasil que é próprio dele ficar invisível
e nem ver a si próprio” – disse Andréa. Segundo ela, foi com essa proposta que
foi criado o Núcleo de Anemia Falciforme no Centro de Especialidades, que hoje
é um motivo de orgulho da Secretaria de Saúde de Embu das Artes. Inicialmente,
o Núcleo teve que procurar e fazer um processo de “encantamento” da população
negra para que eles participassem dos tratamentos. 

65
pessoas numa noite de sexta feira chuvosa

Participaram
da aula 65 pessoas interessadas em fazer o curso da UNIFESP. Como o Dr. Luis
Eduardo Batista disse, esse curso e os trabalhos de Regina Nogueira, de Andréa
Fonseca e de toda a equipe do Núcleo de Anemia Falciforme e da pesquisa da saúde
da população negra em Embu das Artes é resultado de um trabalho iniciado no
passado por Marisa Dandara, em sua luta para que o Governo do Estado
direcionasse a pesquisa para a população negra nos municípios do sudoeste. 

Na aula,
o pesquisador demonstrou que os indicadores sociais no Brasil mostram que há
desigualdade de condições entre homens e mulheres e entre brancos, negros,
amarelos e indígenas. Segundo ele os dados do SUS mostram que o tipo de
trabalho, de local e condições e a posição social que as pessoas vivem
determinam os processos de saúde, doença e morte no país. “Porém esses
indicadores não consideram a questão étnico-racial nos processos de saúde,
doença e morte. Porque? Porque são pontos invisíveis.” –  Em 1995, alguns
grupos do movimento negro procuraram o presidente para propor as correções
dessa invisibilidade através de discriminações positivas ou “ações afirmativas”
. E aí ele contou o histórico das ações de reparar essa invisibilidade “racial”
em vários níveis governamentais e institucionais, até chegar aos estudos atuais
dos indicadores sociais dos processos de saúde, doença e morte, computando a
relação a partir dos componentes “raça ou cor” que começaram a ser divulgadas a
partir dos anos 1990 e que demonstram, claramente, a enorme desproporção de
doenças e mortes entre populações negras e em condições sociais diferentes no
país.  

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