As duas primeiras turmas iniciaram na noite dessa terça-feira, 29 de setembro, no campus avançado da Universidade Federal de São Paulo – Unifesp – Embu das Artes. Os cursos da área da Cultura reuniram pessoas vindas de toda a região e até de São Paulo nas instalações do Complexo Educacional Professora Valdelice Aparecida Medeiros Prass, no Jardim Pirajuçara.
Indicados pelo grupo de trabalho de implantação da universidade e pelas administrações municipais, os integrantes dessas turmas participam da etapa experimental. As turmas de História da Música e Gestão Cultural, compostas por 30 alunos em média, tiveram o primeiro contato com a teoria programada para as 36 horas. Jovens estudantes, educadores, artistas e musicistas amadores, oficineiros com afinidades pelos temas participaram da aula de apresentação e de adaptação às salas equipadas com lousas digitais e toda a infraestrutura do prédio. Professores qualificados completam o quadro.
Embora a música seja chamada de linguagem universal, pois seja em qualquer ritmo, todas as pessoas gostam, o curso de História da Música atraiu um público um pouco mais específico, em geral com algum contato prévio com a arte. Na Unifesp – Embu das Artes o curso é ministrado pelo professor Paulo Gilberto dos Santos, de formação pela Universidade São Judas Tadeu em flauta transversal, ex-aluno do professor João Dias Carrasqueira. Atualmente é coordenador técnico no Liceu de Artes de Taboão da Serra na área de instrumentos de sopro.
Convidado para integrar o grupo de trabalho de implantação da universidade, Paulo assumiu as aulas de música dedicado a apresentar conteúdo que situa a arte no tempo e no espaço. O professor ressaltou que é preciso trazer especialmente os educadores para a formação, já que a partir de 2011 a disciplina de música passará a integrar o currículo regular da escola, conforme a lei recém aprovada. E afirmou: “Em 36 horas não é possível ensinar música, mas pode-se propor o reconhecimento dos estilos e das linguagens ao se estudar o processo de evolução”.
A aula Teorias da Cultura, disciplina do curso Gestão Cultural da Unifesp, manteve o clima de debate durante todo o tempo. Mas isso só começou depois de a chefe de Gabinete e secretária de Comunicação de Embu das Artes, Cristina Santos, ter saudado o professor Henry Durante e os alunos. “Essa é uma iniciativa inédita na região e realizar os cursos de extensão da Unifesp aqui no Valdelice é resultado da vontade política manifestada da cidade, que traz para cá a atmosfera universitária que será ampliada com a instalação do campus no município. Sejam bem-vindos”, disse a secretária.
Em seguida, no círculo formado por solicitação do professor Henry, propondo mais descontração, todos se apresentaram. Alguns secamente, outros enumerando atividades, outros expondo conceitos e ainda outros ameaçando nada ter a dizer e surpreendendo com revelações e experiências culturais gratificantes. Quando o professor Henry começou a sua exposição sobre Teorias da Cultura, a “atmosfera universitária” já estava instalada, com debates entre alunos e entre alunos e professor.
Democracia direta e democracia participativa, a concepção antropológica da cultura, políticas culturais no Brasil, criação de incentivos fiscais, a cultura e suas dimensões simbólica, cidadã e econômica, a visão tridimensional da cultura com a abrangência defendida por Gilberto Gil, quando ministro, que surgiu em 2003, foram algumas questões expostas pelo professor. Elas alimentaram debates entre alunos provenientes dos municípios de Taboão da Serra, incluindo a vice-prefeita Márcia Regina, Embu das Artes, com o jovem Marcelo Tomé, neto de Raquel Trindade – ele enriqueceu a aula falando do bisavô Solano, quando nem tinha chegado a Embu, na qual iniciou o projeto cultural que é conduzido pela família no Teatro Solano Trindade –, Itapecerica da Serra, São Lourenço da Serra e Juquitiba, de Alline Cassetari, a diretora de turismo que quer mais para a sua cidade.
Ao fim da primeira aula de Gestão Cultural e com a tarefa de ler ou reler, até a próxima, os livros Manifesto Antropofágico e Manifesto da Poesia Pau-brasil, de Mário de Andrade, um dos principais responsáveis pelo surgimento das políticas culturais no País, nos anos 1930, uma constatação: o alcance do curso certamente vai extrapolar os muros do Valdelice e promover uma troca de experiência nunca ocorrida entre os municípios, que só correm o risco de mais envolvimento com a cultura regional. Viva a Unifesp!
Cristiane Del Gaudio e Elke Lopes Muniz