Há 23 anos um grupo de profissionais de saúde, durante o II Congresso Nacional dos Trabalhadores em Saúde Mental, se recusaram a praticar métodos de tratamentos que sejam de exclusão e violência institucionalizada que desrespeitassem os direitos de quem estava em tratamento. Assim, assumiram o compromisso de lutar por uma reforma psiquiátrica. Hoje, essa lei existe e o desafio é para fazer com que seja implementada completamente.
Para chamar a atenção da população sobre o dia da Luta Antimanicomial a secretaria de Saúde, através da Saúde Mental, promoveu uma série de eventos sobre essa questão. A primeira delas foi a apresentação do filme “O Alienista”, uma adaptação do livro de mesmo nome, escrito por Machado de Assis, que conta a estória de um médico que queria separar a cidade em dois reinos, o da “loucura”, e o da “normalidade”, mas para isso ele criou parâmetros de “normalidade” e quem saísse desse “padrão” era internado. No final, acabou internando até a própria família.
A idéia era promover um debate sobre a questão do que é ser “normal” na sociedade. Segundo a professora da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, Ana Luisa Aranha, a “loucura” surge a partir do capitalismo, pois a pessoa que não se enquadrasse nos “padrões” da sociedade, que não produzisse para ganhar dinheiro e poder consumir, era considerada “louca” e, portanto, não poderia viver em sociedade. Para ela, o filme – baseado no livro escrito em 1882 – ainda é atual, pois o protagonista tem traços obsessivos, mas pela posição que ocupa na sociedade, médico, lhe permite fazer diagnósticos dizer o que é “normal” do “não normal”.
A partir desse “padrão” estabelecido a sociedade passa a tratar os desvios como doenças e por isso não podem pertencer aos grupos sociais. Nesse contexto, os sanatórios foram criados com a proposta de tratar esses desvios, essas doenças. Contudo, segundo Ana Aranha, não há como se ter tratamento efetivo tirando essas pessoas do convívio social. Pelo contrário, devem cada vez mais estar próximo da família, amigos e sociedade.
Mas apenas na década de 90, que o Ministério da Saúde institui uma política voltada para a saúde mental que busca a substituição dos modelos psiquiátricos de internação para prestação de serviços de base comunitária que estabelecem padrões mínimos de humanização e adequação social.
Essa é a proposta dos Centros de Apoio Psicossocial (CAPS) que são compostos por uma equipe multiprofissional composta por psiquiatras, psicólogos, assistente social e enfermeiros. Existem cinco tipos de CAPS, Embu conta com o CAPS II e CAPS ad. Conheça um pouco cada um deles:
• CAPS I – Serviços voltados para cidades de pequeno porte cujo atendimento é direcionado a toda clientela com transtornos mentais severos.
• CAPS II – Serviços voltados para cidades de médio porte, como é o caso de Embu, com atendimentos a adultos durante o dia.
• CAPS III – Atendimento para a clientela adulta, mas disponível 24 horas por dia.
• CAPS i – Atende crianças e adolescentes que funcionam durante o dia e funciona em cidades de médio porte.
• CAPS ad – Serviços voltados a pessoas com problemas de uso de álcool e droga e funciona durante o dia.
Fonte: Ministério da Saúde
No segundo dia de comemoração da luta antimanicomial, os usuários dos CAPS tomaram as ruas da cidade fazendo a “parada do orgulho louco”, uma forma de chamar a atenção para o direito que todos têm de utilizar o espaço público e provocar a reflexão nas pessoas. Essa parada foi inspirada no movimento pela luta antimanicomial ocorrido desde 2007 em São Paulo, onde foi realizada a I Parada do Orgulho Louco, composto por usuários da saúde mental.
Na seqüência, o Centro Cultural Mestre Assis do Embu se transformou em uma passarela. Os modelos eram os próprios usuários e as roupas da grife Dasdoida que contou com a participação da terapeuta Marcia Pompermayer e Julia Catunda, criadoras da grife.
Para encerrar semana da luta antimanicomial, o artista Wanderley Ciuffi orientou um trabalho envolvendo crianças no Projeto Zara no bairro Vista Alegre. O objetivo era produzir uma tela comunitária que, segundo o artista, é uma forma de externar todas as alegrias e tristezas. Ao final, Ciuffi fará o tratamento necessário, emoldurará e ficará exposta na Unidade Básica de Saúde (UBS) do Vista Alegre. O quadro conterá os nomes de todos que participaram da composição.
Paralelamente, foi montada uma barraca na feira livre do Santa Tereza onde foram dadas orientações e cadastramento para coleta seletiva e separação do material reciclável. Também foram oferecidas orientações sobre os serviços de psicólogos desenvolvidos nas UBS e os trabalhos da saúde mental. Quem passou por lá podia trocar os materiais recicláveis por mudas.
Para mais informações sobre os serviços da Saúde Mental, basta procurar os locais abaixo:
CAPS II
Endereço: Rua Domingos de Pascoal, 203 – Centro.
Telefone: 4704-5932
Funcionamento: segunda a sexta das 7h às 18h.
Serviços: assistente social, psiquiatria, psicologia, terapia ocupacional, enfermagem.
CAPS ad
Endereço: Rua Siqueira Campos, 22 – Centro.
Telefone: 4704-7082
Serviços: Assistente Social, Psiquiatria, Psicologia, Terapia Ocupacional, Enfermagem.
Conviver
Endereço: Parque Francisco Rizzo – Centro
Telefone: 4781-5728
Funcionamento: segunda a sexta, das 7h às 17h
Serviços: Oficinas voltadas para a população. Núcleo de trabalho de geração de renda