Embu das Artes viveu um momento especial, em 14/11, com a entrega do Teatro Popular Solano Trindade, após reforma e adequação. O novo teatro nasce com um valioso passado e revoluciona a cidade, assim como o Teatro Oficina, fonte de inspiração para o projeto, mudou São Paulo e o País nos anos 50. Há um outro fator que marca essa data: o momento raro de avanço cultural compartilhado entre poder público, artistas e comunidade.
A entrega do novo teatro Solano Trindade iniciou a programação cultural de Embu das Artes em comemoração ao Mês da Consciência Negra, em evento com atrações musicais como Toni Garrido e Negra Li, realizado em conjunto pelo Serviço Social do Comércio (Sesc-SP), ponto de cultura Solano Trindade e Prefeitura de Embu. O extenso programa, organizado pela Secretaria Municipal de Participação Cidadã, se estende até o fim do mês, em outros espaços culturais e escolas da cidade, com atrações de música, teatro, dança e debates (consulte o site www.embu.sp.gov.br).
“É mais que a entrega de um teatro, é o reforço de que nosso governo reconhece que temos uma dívida com afro-brasileiros neste País”, disse o prefeito, destacando a homenagem ao poeta, pintor e folclorista Solano Trindade (1908-1974), um dos principais artistas locais. Lembrou a criação de Núcleos de Cultura, de Pontos de Cultura, a construção de centros culturais no Valdelice e Santo Eduardo (em andamento) e o início das obras no Parque da Várzea, onde terá campus da Universidade Federal (Unifesp), parque e o maior centro cultural da região, enfatizando o apoio à cultura pelo governo federal.
Para o prefeito Prefeito, o teatro representa um avanço cultural para a cidade e mais uma etapa cumprida no seu plano de governo, que enfatiza o “acesso da população aos bens culturais com estímulo à produção local e popular”. O projeto, que transformou o antigo espaço em um grande teatro, assinado pelo arquiteto Eduardo Galli Ewbank, da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano, foi realizado com verbas federal (R$ 284 mil) e municipal (R$ 195 mil). Também faz parte do plano de governo de Prefeito a “implantação de centros culturais e ampliação de programas voltados à inclusão social”. Ele dividiu esse momento com seu antecessor, o deputado Prefeito, que construiu o equipamento construído em 2001.
“O sonho de muito tempo está concretizado e com apoio de muita gente. Esse teatro é um sonho do meu pai que ele não conseguiu concretizar. O Edu me disse: ‘Raquel, vai ficar igual ao Oficina” e fez o que estava na minha cabeça”, disse a artista e folclorista Raquel Trindade, coordenadora do Teatro. Lembrou que o pai, Solano, foi o melhor do mundo e a ensinou a ter amor ao povo brasileiro, a lutar pela democracia, pela liberdade, sem nenhum tipo de discriminação e isso justifica o fato de no ponto de cultura Solano Trindade ter negros e brancos, incluindo os de ascendência estrangeira, como os japoneses.
Incansável, a artista acalenta outro sonho e encabeça nova luta: “É um mês de dois grandes homens: Zumbi, que lutou 65 anos pela libertação, e João Cândido, que lutou contra a chibata usada na Marinha, em 1910, por brancos para bater em negros, foi preso e torturado. Esses merecem homenagem. Infelizmente é o bandeirante, assassino de negros e índios, Domingos Jorge Velho que é homenageado. Peço que o nome dele seja retirado do Engenho Velho. Não podemos numa cidade democrática como a nossa ter uma rua com esse nome”, disse Raquel.
A festa no Teatro Solano Trindade começou na véspera, com apresentação de grupo música e dança do Teatro, conduzido por Raquel Trindade, do músico Vitor Trindade e outros, além de Toni Garrido. Vitor fez uma bonitas apresentação de poemas de seu avô, Solano, musicados por ele. “O teatro vem com nova e elegante sede. Com porte de teatro, cara de teatro e tamanho de teatro. Vem adulto, no repertorio, no pensamento e na forma”, disse Vitor. Com lembrou tem Mestre Marrom, chefiando uma equipe de Capoeira Angola, tem Carlos Caçapava e Vitor da Trindade com seus alunos professores de percussão, tem Marcelo Tomé, cuidando do setor administrativo, e os netos de Raquel, Zinho, Manu e Maria, profissionais competentes dentro da arte, desde o Hip Hop a produção musical. O grupo de dança, continua apresentando seu repertorio, incluindo o folclore afro brasileiro, e todas as aulas, de música, dança e capoeira estão abertas ao público.
Durante a festa muita gente se divertiu no ambiente do novo teatro, composto de um teatro-pista com espaço cênico onde há galerias de dois andares para a plateia, estúdio de música e camarins. Todo o projeto é voltado à acessibilidade de pessoas com dificuldade de locomoção. Houve muitos aplausos para Vitor, Raquel e seu grupo e outros artistas locais, tietagem para o admirado Toni e a irreverente Li. A cantora veio com toda a família, incluindo o filho de 1 ano. Parece ter contado com menos fãs que Garrido no Solano, mas não menos apaixonados. “Gosto dela porque ela é raiz e vem do gueto que nem a gente”, diz a cabeleireira Flávia Conceição Oliveira, 20 anos, do Capão Redondo.