Sob o tema “Economia Criativa – Um Novo Olhar para o Futuro”, foram realizados em Embu das Artes, no dia 22/11, quatro workshops e um debate a respeito do tema no Parque Francisco Rizzo, com a presença de artesãos, artistas, servidores, empreendedores e autoridades. A promoção do encontro foi da Associação das Prefeituras das Cidades Estância do Estado de São Paulo (Aprecesp), em parceria com a Secretaria Municipal de Turismo, contemplando a 7ª reunião da série Encontros Temáticos: Desafios e Soluções.
Economia criativa é o conjunto de negócios baseados no capital intelectual, cultural e na criatividade que gera valor econômico. Segundo o Ministério da Cultura, o escopo para uma aplicação cultural inclui moda, design, arquitetura e artesanato, estabelecidos sob quatro princípios norteadores: diversidade cultural, sustentabilidade, inovação e inclusão produtiva.
“A Feira de Artes e Artesanato da nossa cidade é referência de espaço ativo de economia criativa”, declarou a secretária municipal de Turismo, Rosana Almeida, ao abrir os trabalhos, lembrando dos 50 anos de existência dessa tradicional atração turística paulista a serem completados no próximo ano.
Tendo como mediador o docente do SENAC, Felipo Luiz Abreu de Oliveira, o pontapé inicial dos workshops foi dado por Elisabete Bacelar do Carmo, subsecretária da Superintendência do Trabalho Artesanal nas Comunidades Trabalho Artesanal nas Comunidades – SUTACO, autarquia vinculada ao Governo do Estado. Ela afirmou que o artesanato é o primórdio da economia criativa e detentor de muito potencial de comercialização. “O artesão sério é muito responsável pelo seu produto, por isso a SUTACO está atuando para desenvolver e reconhecer essa profissão para que se diferenciem de possíveis aventureiros desqualificados no ramo”, apontou.
Em seguida, a coordenadora de Ensino Técnico, Tecnológico e Profissionalizante, da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, Marcia Papa Garcia, demonstrou os diversos programa disponíveis para fomento profissional oferecidos pelo Estado, incluindo a Via Rápida Emprego, Via Rápida Expresso, JEPOE e, destacadamente, explicou sobre a ETECRI.
A ETECRI (Escolas Técnicas de Economia Criativa) se consolida, desde 2017, como um espaço inovador de ensino que oferece a jovens e adultos cursos de qualificação profissional, como Práticas em Mídias Sociais, Técnicas de Web Design, Técnicas de Design de Moda, Vitrinista, Grafite, Recreacionista e Food Styling (estética de prato), utilizando-se de uma metodologia ativo-participativa por meio de dinâmicas de grupo e exposição dialogada. As suas unidades estão localizadas em 6 cidades: Santos, São Vicente, Campinas, São Bernardo do Campo, Lençóis Paulista e Presidente Prudente.
Logo após, a secretária adjunta de Cultura do Estado de São Paulo, Patrícia Penna, discorreu em sua exposição sobre atributos da economia criativa. “Ela age a partir de recursos escassos para atender necessidades infinitas e sua criatividade só é válida se for colocada em ação”, disse. “E esse setor é relevante para resolver demandas coletivas, sob um olhar humanista, pensando na preservação do meio ambiente como parte de nossa sobrevivência”, completou Patrícia.
A secretária citou exemplos de iniciativas criativas como o volumoso mercado cinematográfico de Hollywood e Bollywood, o compartilhamento de espaços e recursos como o coworking, startups, iniciativas inventivas individuais, atividades de blogueiros e canais no Youtube, entre outros.
Ela também destacou o evento “Futuro na Cultura”, realizado pela sua pasta em agosto no Memorial da América Latina, ocasião na qual se abordou a economia criativa e a inovação por meio de debates com representantes do setor público, empresários e universidades, além de produtores culturais e formadores de opinião, com o objetivo de reunir inteligências e movimentos dos setores criativos para desenvolver políticas públicas no Estado. “É preciso criar uma nova mentalidade econômica na sociedade em geral – Poder Público, 3º Setor, universidades, segmentos e Sociedade Civil”, afirmou.
Patrícia se debruçou ainda no conceito de “cidades criativas”, que considera um lugar onde as pessoas podem se expressar e crescer com poder de decisão para um planejamento urbano compartilhado entre os cidadãos.
Encerrando o ciclo de workshops, a vice-presidente do Instituto Paulista de Cidades Criativas e Identidades Culturais – IPCCIC, Adriana Silva, contou que é característico da economia criativa unir diferentes áreas, que pode tornar as interações em um denso exercício, mas que alcançam um resultado extraordinário. “Saiam das suas “caixinhas” e façam uma busca interior para extrapolar seus limites”, sugeriu ela.
Sobre a criação de políticas públicas para o setor, Adriana alertou que para isso ocorrer é preciso que a sociedade demonstre as demandas e que cada região desenvolva seus projetos conforme sua identidade local e diferenciais inerentes.
Por fim, a vice-presidente do IPCCIC indicou a utilização da comunicação como ferramenta de gestão para ampliar a divulgação das atividades turísticas de uma cidade. “A economia criativa cresce acima da economia formal e o turismo cultural, por exemplo, é quatro vezes maior que o de negócios”, explicou. “É preciso haver profissionalização para se fortalecer e conquistar espaço”, concluiu.
Debate criativo
Após os workshops, os palestrantes convidados e o público interagiram entre perguntas e sugestões, reiterando o artesanato de Embu das Artes como exemplo de resistência cultural por ser um ofício que mantém as raízes de utilização de técnicas manuais e, ainda entre as discussões sobre economia criativa, foram apontadas algumas ideias, entre elas: a importância da elaboração de um diagnóstico para implantação de projetos; tomada de decisões claras e concretas; articulação por meio dos Planos Municipais de Turismo, Diretor, Ambiental e outros; criação de Leis Complementares junto às Câmaras Municipais; capacitação profissional; formação educacional na rede de ensino; reconhecimento de mestres artesãos; debates públicos e estímulo à participação popular, entre outros.
Daniel Frank Tomaz, 38 anos, da cidade de Santos, estava entre o público e se viu inserido nesse processo de economia criativa. “Tem tudo a ver com meus projetos”, revelou. Ele é atualmente proprietário de uma guardaria de stand up (pranchas para remar em pé no mar), na praia do Boqueirão, mas iniciou suas atividades como escultor de pranchas de surf quebradas, projeto que ele batizou de “Surf Recycle”, produzindo quadros em relevo ou esculturas que reproduzem monumentos históricos e paisagens, cadeiras, objetos etc. É também idealizador do projeto “Surf Limpeza”, que consiste na troca de microlixos coletados na praia (pedaços de plástico, copos, canudos, bitucas de cigarro) por uma volta de 30 minutos numa prancha stand up. Esse material é transformado em artesanato com a reprodução de golfinhos, tartarugas etc. “É bom saber que há grupos botando em prática essa ideia e trocando informações”, finalizou.
Entre as considerações finais, os especialistas avaliaram que a economia criativa pode atender a vários tipos de necessidades, de uma vida tranquila voltada aos bons valores e vivências do passado ou sob os traços de uma era tecnológica. Sobre a mudança de paradigmas diante de uma época tão submetida à atuação de grandes corporações econômicas e ao consumo exacerbado, acredita-se que o estabelecimento de hábitos saudáveis e sustentáveis podem ocorrer por meio de uma transformação cultural e sensibilização, e a educação pode ser fundamental nesse processo para se pensar a sociedade, mesmo que mantendo os benefícios do presente.
Demais autoridades presentes: secretários municipais Anderson Zonta (adjunto de Turismo) e Alessandro Rodrigues (adjunto de Cultura); Régis Pires (analista de Turismo) e o subcomandante Vitor (GCM).