“Foi uma emoção imensa”. Assim Raquel Trindade descreveu a sua participação e a de seu filho Vitor Trindade, em Pernambuco, da homenagem prestada pela Prefeitura do Recife ao seu pai, Solano Trindade, poeta da resistência negra, teatrólogo, e um dos fundadores do movimento artístico de Embu das Artes, cidade onde viveu por 12 anos. A ação promovida pela Prefeitura do Recife imortaliza um dos expoentes da Cultura Afro-Brasileira com a instalação, no dia 9 de janeiro, de uma escultura do poeta no Pátio de São Pedro. A obra de arte faz parte do Circuito da Poesia que, desde dezembro de 2005 busca resgatar o trabalho e o ideário de marcantes artistas de Pernambuco, através da construção de estátuas em tamanho real em pontos históricos do Recife.
A homenagem ao poeta, que lutou durante toda a vida contra o racismo, foi o ponto alto da programação da Terça Negra, uma parceria entre a Prefeitura do Recife e o Movimento Negro do Recife, que celebra o movimento com apresentações de produções culturais afro-brasileiras. O monumento de Solano Trindade foi desenvolvido pelo artista plástico Demétrio Albuquerque e levou 4 meses para ser concluído. A peça tem 1,60m de altura e foi construída em concreto pigmentado para dar maior vivacidade. “Todo meu trabalho foi recompensado depois de ver a alegria no semblante dos familiares e das pessoas que compareceram”, lembrou Albuquerque.
O vice-prefeito da cidade do Recife, Luciano Siqueira, disse que agora tinha motivos redobrados para se emocionar no Pátio de São Pedro, “com a estátua de Solano Trindade, esse poeta militante e lutador das causas negras, aumentou ainda mais o meu apreço”. Raquel Trindade, 70 anos, declamou dois poemas de seu pai e falou sobre a iniciativa da prefeitura. “Só tenho que agradecer ao prefeito João Paulo, homenagear um artista como meu pai, que levou sua arte e luta pelo resto do Brasil e Europa”, disse.
Na solenidade também estiveram presentes a irmã do homenageado, Maria da Penha Ferreira; o neto do artista, o músico Vítor Trindade, que executou poemas musicados do poeta, além de autoridades. A noite continuou com a programação da Terça-Negra, que teve a participação de poetas recitando versos de Solano Trindade e a apresentação de grupos de Afoxé e Maracatu.
Socialista, Solano Trindade saiu do Recife e foi morar no Rio de Janeiro, onde fundou o Teatro Popular Brasileiro em 1950, junto com a esposa Margarida, que era terapeuta ocupacional, e o sociólogo Edson Carneiro. Cinco anos depois, viajou com seu teatro para a Polônia e a antiga Tchecoslováquia. Em 1961, o grupo apresentou-se em São Paulo, e foi convidado pelo escultor Assis do Embu para conhecer Embu, onde viveu até 1973. O artista faleceu em 19 de fevereiro de 1974, no Rio de Janeiro, deixando seu legado para a comunidade afro-brasileira.