O frio e a chuva fina do fim de semana não atrapalhou. “A Festa de Santa Cruz é sempre assim”, diziam muitos, dando de ombros. Para a família Eleutério isso faz parte das comemorações de Santa Cruz: Maria do Rosário, Valdeci e os filhos participam “há anos”, assim como muitas das 5 mil pessoas que lotaram a praça a cada dia, nos festejos de 13 a 15/5. Depois do tríduo, nos dias 11 e 12, na Capela de Santa Cruz, e da abertura do Ciclo de Santa Cruz com Terço, na Capela da Família Cachoeira, no dia 3, todos estavam na praça do Memorial Sakai para se divertir, preservando a tradição, lembrada pelo prefeito Prefeito.
“Tudo que não tem tradição, não tem história. Por isso, temos de resgatar a originalidade da Festa de Santa Cruz”, disse o prefeito da cidade que ainda festeja o nome Embu das Artes, oficializado no recente plebiscito, que ele mesmo ajudou a realizar. Prefeito citou o trabalho desenvolvido pelo seu antecessor, hoje deputado estadual, Prefeito, que também compareceu, e agradeceu a parceria com a Caixa Econômica Federal (CEF), representada no evento pelo superintendente Regional, Augusto Vilhalba e equipe. “É uma festa com mais de 400 anos, que nasceu no Embu, mas pertence a São Paulo, ao Brasil”, afirmou o gerente.
Histórias e tradição
A Festa de Santa Cruz é uma rara oportunidade do contato com tanta história e tradição em um mesmo espaço. O palco foi ocupado pelo grupo Mulungu conduzido pelo percussionista, artesão de instrumentos e estudioso dos ritmos afros Caçapava, morador da cidade, pelo Dedi e Trio, apresentando o forró pé de serra (sanfona, triângulo, zabumba, percussão e voz), estilo chote, criado pelo rei do baião Luiz Gonzaga, e a dupla Liu e Leu, com visual invejável, sustentado por malhação diária, boa alimentação e cinco shows por semana, muito aplaudidos por fãs conquistados em 53 anos de carreira.
Fora do palco circulavam as rezadeiras, os grupos de congada, trança fita, de adoração e de adoradores mirins e a dona Noêmia Gonçalves da Luz, 83 anos, “que junto com seus companheiros continua o trabalho de sua mãe Elísia Cachoeira, em mais uma Festa de Santa Cruz no Cruzeiro” (que fica ao lado do Memorial Sakai e da Capela de Santa Cruz), como escreveu Raquel Trindade na dedicatória do livro que presenteou Noêmia.
A presença de Raquel Trindade, que levou para a festa o Grupo Solano Trindade, foi outro momento gratificante. A terracotista Tônia do Embu, coordenadora do Memorial Sakai, falou da importância do livro de Raquel Trindade para os artistas locais. Ao lado dela, Noêmia e o secretário de Cultura, Paulo Oliveira, a autora agradeceu à prefeitura e suas secretarias de Cultura e Educação pela colaboração no projeto do livro.
Vale lembrar que Raquel Trindade lançou Embu: de Aldeia de M'Boy a Terra das Artes durante a V Semana Literocultural de Embu das Artes (V Selic), em abril, reunindo 300 pessoas no Centro Cultural Mestre Assis do Embu, no Centro Histórico. A plateia, “de amigos”, como ela mesma disse, mostrou-se sensibilizada com o fato de Raquel ter incluído artistas da cidade na sua obra e tê-los presenteado com ela.
A Festa de Santa Cruz de Embu das Artes em 2011 foi enriquecida ainda com a participação de grupos folclóricos de cidades como Carapicuíba e Vargem Grande Paulista. Todas integram o Cinturão Jesuítico Paulista, com riquezas culturais herdadas do convívio entre jesuítas e indígenas.