Festival Solano Trindade evidencia cultura afro-brasileira

25/07/2007 - 0:00
Festival Solano Trindade evidencia cultura afro-brasileira
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O Festival Centenário Solano Trindade Embu das Artes foi um passeio pelas manifestações culturais brasileiras de raiz. A efervescência e a alegria multiculturais da obra de Solano tomaram conta do teatro que tem o seu nome, encravado no centro de Embu. Jovens poetas declamaram Solano Trindade, teve apresentações de maracatu, pastoril, maculelê; batidas de tambores nos mais diversos ritmos, naipes de cuíca, a cuíca de Seu Maninho e a música criada a partir de pesquisas do grupo Revista do Samba, tendo como integrante um dos cicerones da festa, Vitor da Trindade. O público pôde comprovar que a célebre frase do “Poeta do Povo – pesquisar na fonte de origem e devolver ao povo em forma de arte – norteou todo o trabalho de sua filha Raquel Trindade à frente do Teatro Popular Solano Trindade (TPST) e marca fortemente a trajetória de seu bisneto, o rapper Zinho Trindade. Ao lado de Tiago Beat Box e Gaspar, do Z´África Brasil, o artista desenvolve um trabalho que revela a influência da história do bisavô e da avó, Raquel a Kambinda.

Realizado nos dias 21 e 22 de julho, o festival deu início às comemorações do centenário do poeta, pintor, teatrólogo, cineasta, ator e folclorista Solano Trindade, a ser completado em 24 de julho de 2008. O evento, promovido pela Prefeitura da Estância Turística de Embu das Artes e pelo TPST, reuniu 40 grupos em shows musicais com Z´áfrica Brasil, Thobias da Vai-Vai, Osvaldinho da Cuíca, Revista do Samba, além de outras manifestações culturais afro-brasileiras de dança e música. Com entrada gratuita, os espetáculos aconteceram no interior da sede do TPST e em palco montado na Avenida São Paulo, 100 – Centro, onde se localiza o teatro. A inauguração de um monumento em homenagem a Solano Trindade, confeccionado pelo escultor Jofe dos Santos, também marcou as comemorações, juntamente com uma exposição de Arte Negra.

“Essa homenagem é feita para você Raquel, pela sua persistência e determinação em preservar e transmitir o trabalho iniciado por seu pai Solano”, disse Prefeito, prefeito de Embu das Artes, durante a abertura oficial do evento, que teve a presença majestosa da Velha Guarda das Escolas de Samba de São Paulo e representantes das secretarias de cultura de Recife (PE) e Duque de Caxias, Rio de Janeiro, cidades onde o poeta do povo viveu.

O prefeito lembrou que a construção do TPST foi a primeira de sua gestão em 2001, feita com verba do Departamento de Apoio ao Desenvolvimento das Estâncias (Dade), “um projeto modesto e que precisa de ajustes que serão feitos em breve”. Prefeito contou, também, que a Prefeitura está, aos poucos, levando toda essa cultura para dentro das escolas do município. Walter Rocha, secretário de Turismo, preferiu render-se à “força das palavras” de Solano Trindade e deu vivas à sua poesia e pinturas.

Cultura negra
Liberto Solano Trindade, filho do poeta, destacou o trabalho da irmã Raquel, que com sua experiência e dedicação conseguiu levar aos mais jovens o trabalho do pai e Milton Barbosa, coordenador nacional de relações internacionais do Movimento Negro Unificado, convocou os presentes a participarem do Congresso Nacional de Negras e Negros do Brasil, de 11 a 14 de outubro em São Paulo, cujo eixo será a construção de um projeto do povo negro para o Brasil.

Claudilene Silva, coordenadora do Núcleo de Cultura Afro de Recife, disse que o TPST “é lindo e importante como referência para a cultura negra tão rica em manifestações e porque a população negra está acostumada a ser desprovida de algo que seja seu”.

Também estiveram presentes: Roberto Terassi, vice-prefeito; Maria Cleuza Gomes, presidente do Fundo Social de Solidariedade; Selma Fernandes, secretária de Cidadania e Assistência Social; Prefeito, chefe de Gabinete; César Domiciano, diretor de Cultura de Embu; Tônia do Embu, coordenadora do Memorial Sakay; Egbomi Conceição Reis de Ogum, do Instituto Nacional da Tradição e Cultura Afro-Brasileira (Intecab); Petronilha Beatriz Gonçalvez e Silva, do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade Federal de São Carlos; Valdir Romero, diretor da Escola Municipal Garcia D´Ávila (SP); Márcia Regina Bull, Universidade Mackenzie; Antonio Eleilson Leite, coordenador cultural da ONG Ação Educativa; Agostinho Ferreira dos Santos, coordenador municipal do Movimento Negro Unificado de São Paulo; Mãe Juçalha, do Templo de Umbanda Santa Bárbara; Marco Antonio da Silva, da Associação Independente Cultural Velha Guarda do Samba do Estado de São Paulo; Francisco Airton do Nascimento, diretor de Cultura de Itapecerica da Serra; Eunadelina Maciano Julio Barbosa, vocalista e diretora da Banda Afro Imalê efé.

Mensagens de apoio
Raquel Trindade também recebeu mensagens de convidados que não puderam comparecer. Entre eles, Kabengele Munanga, do Centro de Estudos Africanos da USP e carta assinada pelo poeta, escritor, artista plástico, ativista pan-africanista e Professor Emérito da Universidade do Estado de Nova York, fundador do Teatro Experimental do Negro (1944) e do Museu de Arte Negra (1950-68),  Abdias Nascimento, pela atriz Léa Garcia e pela escritora Elisa Larkin Nascimento, do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (IPEAFRO). Caio Porfírio Carneiro, Secretário Administrativo da União Brasileira de Escritores (Ube), onde Solano foi diretor, não compareceu por motivos de saúde, mas também enviou mensagem lembrando que Solano foi um dos homens raros da Cultura Popular Negra do País e da Cultura brasileira em geral.

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