Você, que adora cinema, não pode perder dois filmes com artistas da cidade e que fazem parte das comemorações do Aniversário de 457 anos da Aldeia M’Boy (18/7). A programação, de 15 a 30/7, inclui sessões de cinema gratuitas no Centro Cultural Mestre Assis (Largo 21 de Abril, 29):
A Pequena Órfã, filme de 1970, com participação da pintora primitivista Ana Moysés (1933/2003), uma das mais importantes da cidade e que tem até seu nome em uma das salas do Centro Cultural Mestre Assis do Embu. O filme é baseado na novela de Teixeira Filho, que fez sucesso na TV Excelsior, dirigida por Dionísio Azevedo em 1968/1969. Vale lembrar que na trama há ingredientes de Curly Top, sucesso do cinema americano que lançou o fenômeno Shirley Temple, em 1935. Clery Cunha foi assistente de direção da novela e fez a adaptação cinematográfica. No filme, são os mesmos protagonistas: a menina Patrícia Ayres, como Toquinho, e Dionísio Azevedo, como o Velho Gui. Um dos destaques da produção é o cantor Noite Ilustrada (o alcoólatra Mercadoria), que na vida real era amigo de Ana Moysés. Na trama, Toquinho é explorada pela mãe adotiva para pedir esmolas e encontra a mãe verdadeira.
O Santo Milagroso, de 1966, com Solano Trindade, Raquel e Assis, ao lado de atores como Leonardo Vilar e Dionísio Azevedo. A comédia é dirigida e roteirizada por Carlos Coimbra, baseado na peça de Lauro César Muniz. Na trama, quando a sua irmã interessa-se pelo sacristão da igreja católica, o pastor procura o padre, seu rival na disputa da liderança espiritual da cidade, par impedir o namoro, criando confusões.
O pernambucano Francisco Solano Trindade (1908/1974) chegou a Embu das Artes em 1961 e foi um dos precursores do movimento que tornaria a cidade conhecida por sua cultura e arte. Na poesia deixou textos como Poemas D’uma Vida Simples (1944), Seis Tempos de Poesia (1958) e Cantares ao Meu Povo (1961). Como ator, foi o primeiro a interpretar Orfeu da Conceição, de Vinícius de Moraes, no teatro.
No cinema, além de O Santo Milagroso, Solano fez Agulha no Palheiro e co-produziu Magia Verde, premiado em Cannes. Solano foi ainda teatrólogo, folclorista, pintor, com trabalhos elogiados por intelectuais como Sérgio Milliet, Carlos Drummond de Andrade, Roger Bastide, Otto Maria Carpeux, Darcy Ribeiro. O grupo Secos & Molhados musicou o seu famoso poema Tem Gente com Fome, em 1975. Proibida pela censura, a música só foi apresentada ao público em 1980 por Ney Matogrosso, que a gravou.
Raquel Trindade, folclorista, artista plástica, escritora, continua na mesma trilha do pai, trabalhando pela arte e cultura. E o filho, o músico Vitor Trindade, dá vida a outros poemas do avô, que tem musicado e apresentado em seus shows no Brasil e exterior.
O artista plástico mineiro Assis de Embu (1931/1975) foi um grande articulador do movimento artístico e cultural da cidade, ao lado de Solano Trindade, Sakai de Embu, com o qual aprendeu técnicas da cerâmica, e outros. Ele chegou à cidade em 1959 e procurou Cássio M’Boy para mostrar sua escultura de gesso. Escultor em madeira, pedra-sabão e terracota, pintor, ator, bailarino e poeta, foi um dos principais responsáveis pela criação da Feira de Embu das Artes. Seu ateliê, o "Barraco do Assis", funcionava como centro cultural da cidade, no qual ele fundou o "Movimento do Embu", que agregava Solano Trindade e seu grupo. Foi Secretário de Turismo e Cultura do Município em 2000.