Mick Jagger, em visita a Embu das Artes, durante a primeira turnê dos Rolling Stones, em 29 de janeiro de 1995
Conhecida pelas suas feiras de artesanato, a cidade de Embu das Artes, na Grande São Paulo, teve uma grande surpresa em 29 de janeiro de 1995, um domingo.
Foi quando Mick Jagger decidiu fazer um passeio por lá para aproveitar o seu dia de folga, após os dois primeiros shows que os Rolling Stones fizeram no Brasil, há 20 anos, nos dias 27 e 28, em São Paulo. Antes de encarar o terceiro dia de apresentação no estádio do Pacaembu, o vocalista da maior banda de rock do planeta circulou pelas ruas de Embu e optou por almoçar em um restaurante no centro histórico da cidade, onde experimentou comida baiana.
Proprietária do hoje extinto restaurante Orixás –onde hoje funciona uma loja de móveis–, Maria de Fátima Queiroz, 51 anos, recebeu o telefonema de uma guia turística naquela manhã, pedindo uma reserva para sete pessoas. “Escolhi a mesa do fundo sem ter ideia de quem estava por vir”, conta.
Maria de Fátima não estava no restaurante quando o astro de rock chegou. “Minha mãe me ligou e pediu para eu voltar urgente, porque o Mick Jagger estava lá. Minha primeira reação foi falar ‘vai se danar, mãe, para de brincar com a minha cara’, mas vi que a coisa era séria e corri para lá”, afirma.
Ao chegar à porta do próprio restaurante, Maria de Fátima foi barrada por dois “brutamontes” que estavam postados na entrada. “Sou dona daqui, me deixa entrar”, ela disse aos seguranças do cantor inglês.
“Os seguranças estavam barrando a entrada de todo o mundo, por isso menti. Consegui entrar e pedi para entregarem ao Mick uma caixa de prata que eu tinha feito. Ele pegou e botou no bolso da camisa. Foi o único presente que ele guardou”
Miguel Angel Cabrera, escultor
Mick Jagger, que estava com integrantes da equipe que acompanhava os Rolling Stones, pediu o prato da casa. “Ele comeu salada de palmito, vatapá com camarão e pediu uma cerveja brasileira”, conta Maria de Fátima. “Apesar de o restaurante estar lotado, com uns 70 clientes, ele não foi abordado por quase ninguém, teve a privacidade que buscava. Ele é um cara simples e foi extremamente gentil”, conclui.
Mas a paz de Mick Jagger durante o almoço acabou logo. Minutos antes de entrar no restaurante, o cantor foi visto pelo escultor argentino Miguel Angel Cabrera, 59 anos, que reconheceu o astro enquanto ele caminhava pelas ruas de boné e óculos escuros, vestido com uma camisa verde, calça azul e tênis branco. “Antes de entrar no restaurante, ele caminhou pelas ruas da cidade. Quando o vi, fiquei estático”, afirma Cabrera.
Depois de buscar um presente para o cantor inglês, o escultor foi até o restaurante, com seus cabelos longos e visual hippie, e, para entrar, mentiu que era segurança do Orixás. “Os seguranças estavam barrando a entrada de todo o mundo, por isso menti. Consegui entrar e pedi para entregarem ao Mick uma caixa de prata que eu tinha feito. Ele pegou e botou no bolso da camisa. Foi o único presente que ele guardou”, relembra.
“A confusão foi tão grande que não consegui guardar nem o guardanapo de pano que ele usou. As garçonetes misturaram tudo. Uma pena, seria uma recordação e tanto“
Maria de Fátima Queiroz, dona do antigo restaurante Orixás
Em pouco tempo, centenas de pessoas se aglomeraram na rua principal de Embu das Artes para tentar ver o vocalista dos Rolling Stones ou guardar alguma lembrança dele. A prefeitura até mobilizou policiais para isolar o local e enviou presentes para o astro, como camisetas da cidade e artigos de artesanato. “A confusão foi tão grande que não consegui guardar nem o guardanapo de pano que ele usou. As garçonetes misturaram tudo. Uma pena, seria uma recordação e tanto”, afirma a dona do antigo do restaurante.
Um cordão humano teve que ser formado para dar passagem a Mick Jagger e evitar que a multidão o alcançasse. Segundo relatos, o astro de rock saiu correndo e desceu a viela das Lavadeiras em busca do carro que o aguardava do outro lado. “No meio da confusão, ele se distraiu e bateu a cabeça em um poste. Os óculos dele até caíram”, afirma o empresário Marcelo Águila, 42 anos, que estava na sacada de seu antiquário quando o vocalista dos Rolling Stones desceu a viela.
Hoje, a visita de Mick Jagger à cidade é lembrada no Centro Cultural Mestre Assis de Embu das Artes. No minimuseu que funciona no local estão expostas uma foto do cantor no município (veja acima) e uma reportagem que foi publicada na época sobre o ilustre visitante.
Reportagem: Tatiana Cavalcanti, do UOL, em São Paulo
Foto: Sergio Fernandes/Guia Brasil Cultural 1995