História da Festa de Santa Cruz

14/05/2008 - 0:00
História da Festa de Santa Cruz
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A Festa de Santa Cruz é a mais antiga de Embu. O evento reúne uma série de apresentações que mesclam fé, religiosidade e cultura viva por meio da música, dança, teatro e culinária relacionadas aos festejos iniciados pelos padres jesuítas a partir do século XVII.

Os festeiros rezam diante da Santa Cruz, ajoelhados ou não, beijam-na, acendem velas, cantam e dançam em adoração à Santa Cruz. Na tradicional Festa de Santa Cruz de Embu há o levantamento do mastro e os que desejam algo devem fazer o pedido ao seu pé, pois assim serão atendidos.

Embu cresceu sob a égide de Santa Cruz. Em 1624, data provável da fundação da aldeia de M´Boy, Fernão Dias e Catarina Camacho, sua esposa, exigiram, como condição para doar parte de suas terras aos jesuítas da Companhia de Jesus, que fosse instituída a devoção à Nossa Senhora do Rosário e a adoração à cruz. É fato histórico que desde os tempos dos jesuítas (que permaneceram na região entre 1554 e 1759) os índios dançavam em frente à Igreja do Rosário.

Apesar de inicialmente religiosa, atualmente trata-se de uma festa pagã, onde o povo dirige a manifestação. Segundo o Dicionário do Folclore Brasileiro, de Luís da Câmara Cascudo, a adoração à Santa Cruz popularizou-se depressa entre a população indígena. A cruz é o símbolo maior do cristianismo, fincada pelos padres jesuítas nas praças centrais das tribos indígenas. Foi um dos artifícios utilizados pelos jesuítas para catequizar os índios, a partir da constatação da importância da dança na cultura dos índios. A estratégia foi adaptar a dança indígena "sarabaquê" para a festa de adoração à Santa Cruz. Santa curuzu dos guarani e santa curuçá dos tupi, manifestações religiosas decorrentes da cristianização dos povos indígenas, figuravam no devocionário mameluco, mestiço e caboclo.

Na Adoração à Santa Cruz, o próprio povo dirige a celebração, não há intervenção eclesiástica. O capelão, que é um paisano, é o encarregado de cantar os versos de louvor. Por ocasião do IV Centenário de São Paulo, em 1954, a dança de Santa Cruz foi considerada contribuição da cultura índio-jesuítica para a formação do estado de São Paulo.

Consta do livro Embu Terra das Artes e Berço de Tradições que a festa era realizada na antiga capelinha de Santa Cruz, onde em fins de 1934 se construiu a Capela de São Lázaro. Também já foi realizada no Largo 21 de Abril e mais tarde passou para o Cercado Grande, onde se pretendia construir a Capela de Santa Cruz, substituída pelo atual Cruzeiro.

Símbolos da Festa

Canto e dança
Danças folclóricas, dentre as quais, destaca-se o "Chimarrete", são o charme da Festa de Santa Cruz. A participação mais importante nesta dança é a do violeiro, que atua como uma espécie de mestre. Versos são cantados livremente tanto pelo violeiro como por participantes, sendo em geral quadrinhas conhecidas.

Os participantes da dança da Santa Cruz posicionam-se em duas filas indianas, sendo que o violeiro principal fica na esquerda, tendo um outro violeiro à direita. A dança não exige indumentária especial, mas segundo a tradição, existe uma indumentária para os adoradores, o que não impede que todos os presentes à festa dancem juntos. A apresentação começa com sapateados e bater de palmas e prossegue com um vaivém de cantos e palmas realizados a cada final de estrófe da música de adoração. O encerramento do canto é sempre com o VIVA A SANTA CRUZ!.

Flores de papel coloridas
Tanto a cruz quanto a bandeira são enfeitadas de flores de papel crepon por suas respectivas madrinhas, que são pessoas da comunidade que há muito tempo participam da festa. Elas significam a busca da beleza e a valorização da própria cruz, uma demonstração da fé depositada na Santa Cruz.

Mastro
O mastro é um elemento sempre presente, com referências ligando-o à fertilidade do solo e às colheitas fartas, também usado para reverenciar as forças vivas da fecundação das sementes. Outras culturas acreditam que esses mastros enfeitados são mágicas ligações entre o céu e a terra ou, ainda, como os povos indígenas brasileiros acreditavam, simplesmente espantavam os maus ares. Na ponta do mastro é colocada a Sagrada Cruz, devidamente enfeitada.

Bandeira e estandarte
O estandarte da Santa Cruz acompanha a procissão, juntamente com a "bandeira de moldura", que será levantada no mastro. A bandeira significa a presença simbólica, a solidariedade e a oficialização de todo o grupo.

Bebida típica
Segundo Rossini Tavares de Lima, no livro Folclore das Festas Cíclicas, a bebida típica da festa de Santa Cruz é a que se chama "pau-a-pique". Ela é feita alguns dias antes da festa, em pequena quantidade, do seguinte modo: juntar meio quilo de gengibre socado, 200 g de erva-dose, 300 g de canela em casca, uma pitada de cravo moído e um pouco de noz-moscada. Coar, juntar pinga a gosto, um a dois litros, levar ao fogo até abrir fervura. Engarrafar e deixar descansar até a hora de servir.

Saudação

Adoração à Santa Cruz de Embu
(contada antigamente por Nhô Virgílio, já falecido)

Eu vi no alto da cruz
Meu Jesus crucificado
Alto da cruz
Meu Jesus crucificado

Bradando seu Pai eterno
Porque eu tinha abandonado
Seu Pai eterno, eterno
Porque eu tinha abandonado

Quem dirá a Bom Jesus
Chega a esta cruz também
A Bom Jesus
Chega a esta cruz também

Onde Jesus com seu sangue
Firma nóis da confiança
Com seu sangue
Firma nóis da confiança

Deus te salve cruz sagrada
Nossa única esperança
Cruz sagrada
Nossa única esperança

Para que na nossa graça
Gozemo na glória amém
Na nossa graça gozemo
Glória amém

Não houve mulher nem homem
Que seu brado acolhesse
Acolheu a Madalena
Porque todos vos seguisse

Por cima deste cruzeiro
Tem um arquinho de rosa
Adoremo a Santa Cruz
Santa Cruz tão milagrosa

Vamo dar a despedida
Como deu Cristo em Belém
A despedida
Como deu Cristo em Belém

Santa Cruz que nos ajuda
Para até o ano que vem
Que nos ajude
Para até o ano que vem

Vamo dar a despedida
Em louvor à Santa Cruz
A Santa Cruz
Para sempre amém Jesus

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