Raquel Trindade e professores debatem sobre a arte dos negros

17/09/2015 - 0:00
Raquel Trindade e professores debatem sobre a arte dos negros
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A cultura popular, sobretudo a arte negra, foi o tema da formação continuada de 88 professores de arte da rede municipal, que se reuniram na quarta-feira (16/9), no Teatro Popular Solano Trindade, com a participação de Raquel Trindade, escritora, artista plástica, coreógrafa e folclorista brasileira, e do seu neto, o educador Marcelo Tomé.

O secretário de Educação, Paulo Vicente dos Reis, abriu o encontro e reforçou o êxito do formato participativo e horizontal do curso, juntamente com a assessora pedagógica, Darlene Virginia, e a coordenadora pedagógica, Luciane Cavalhieri, agradecendo a disposição de Raquel e Marcelo para ministrarem a formação.

A experiência é a continuação do ciclo Diálogos Curriculares com o tema “Espaço, Lugar e Território: Teatro Negro por Raquel Trindade e Danças Populares de Embu das Artes”, da Secretaria Municipal de Educação, e não teve viés acadêmico, levando a proposta de fazer uma reflexão sobre o território para a construção de um currículo vivo para as escolas.
 
“Vivo na arte desde criança”, disse Raquel Trindade, ao contar aos presentes um pouco de sua biografia. “Além disso, papai (Solano Trindade) conversava com seus filhos sobre política, nos ensinava a ter orgulho de sermos negros e não acreditava que todos os brancos tivessem preconceito”.

Solano Trindade foi poeta, folclorista, pintor, ator, teatrólogo e cineasta. Legítimo poeta da resistência negra, criava poemas afro-brasileiros desde 1930 e ajudou a estabelecer a atividade artística em Embu das Artes. “Nossa casa sempre estava cheia de artistas e fizemos apresentações em festivais pela Europa, sempre levando a dança e a música do nosso povo, como o maracatu, o jongo, entre outras”, falou Raquel.

Em seguida, a "Kambinda", como também é chamada, falou sobre a origem bastante antiga da arte e cultura negra, que vêm de antes da colonização, com registros de atividades artísticas e artesanais, escritas próprias, engenharia e construções: “A África não era primitiva como pensam muitos, pois já se fazia arte há muito tempo, aí veio a escravidão que acabou por disseminar nossa inteligência pelo mundo”.

Por fim, Raquel afirmou que a história do negro no Brasil chegou tarde às escolas e que agora é preciso resgatar o material disponível por aí, com pesquisa e livros, para prover o conteúdo das aulas. “Devemos ter o cuidado de ensinar aos estudantes a história da maneira certa”, alertou.

Marcelo Tomé, educador e administrador do Teatro, contou sobre a origem da Festa de Santa Cruz na cidade, uma das mais antigas do estado de São Paulo, que foi criada pelos jesuítas como forma de catequizar os índios. Depois recordou dos artistas que tornaram Embu das Artes conhecida mundialmente como um importante reduto de produção artística, citando Cassio M´Boy, Sakay, Mestre Assis, Solano Trindade e muitos outros, e da projeção da famosa Feira de Artes que conhecemos hoje.

“A base científica é necessária para sistematizar o conhecimento, mas a cultura popular não depende do material físico, mas sim das pessoas, pois ela é mantida e contata de geração para geração pela oralidade”, concluiu, sugerindo que os educadores pesquisem a cultura negra e enriqueçam seus repertórios para a formação dos currículos das escolas.

No final, todos improvisaram uma coreografia baseada na dança da Festa de Santa Cruz sob as orientações de Marcelo.

Ouça as opiniões das professoras sobre a formação:

Silvana Patrizzi
 

Margarete Bugov Bras
 

Alessandra Castilho de Magalhães
 

Curso de cultura afro

Raquel Trindade é diretora do curso Identidade Cultural Afro Brasileira (ICAB), pela Unifesp, que tem como objetivo promover o conhecimento da cultura negra, no intuito de fortalecer os educadores e educandos quanto a influência da cultura negra na formação do povo brasileiro.

O conteúdo programático inclui diversos aspectos da história e cultura que caracterizam a formação de nossa população, a partir de grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos do Brasil, a cultura negra e indígena brasileira, o negro índio na formação da sociedade nacional, resgatando suas contribuições nas áreas sociais, econômicas e políticas pertinentes à história do país.

Alguns dos principais temas são: A África Pré-Colonial, Diáspora Africana, Costumes, Cozinha e Farmácia Popular e os Líderes Negros. O curso transita por atividades práticas, reflexão teórica e prática dos conteúdos e vivência diante dos costumes africanos e cultura afro-brasileira.

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