Afinal, quem é normal neste mundo louco? Essa foi uma das frases de reflexão estampadas em cartazes confeccionados por usuários da Rede de Atenção Psicossocial (Raps) de Embu das Artes, exibidos nas paredes do Centro Cultural Mestre Assis na sexta-feira, 24/5, para receber o evento SUStentando a vida antimanicomial: pela liberdade de ser.
Durante toda a manhã, o público acompanhou testemunhos sensíveis de pessoas de todas as idades e diferentes condições psíquicas. Essas pessoas se prepararam, se dispuseram e tiveram coragem subir ao palco para explicar ao público um pouco da sua história, como se sentem na sociedade e, principalmente, como o julgamento equivocado e, muitas vezes, cruel, refletem no mental, emocional e no corpo delas.
Com apenas 8 anos, P.H.S. já entende que a sua vida é bastante diferente das crianças da sua idade. Diagnosticado com transtorno opositor desafiador (TOD) e depressão, chegou a ficar um mês internado num hospital psiquiátrico em Itupeva, interior de São Paulo, após manifestar o desejo de tirar a própria vida e a da mãe. “Foram os piores dias da minha vida”, disse o garoto.
Da plateia, a mãe de P.H.S. contou que ele teve seus primeiros sintomas quando o seu marido faleceu e o menino estava com 6 anos. Com orgulho, ela falou que hoje o filho está bem melhor, é um menino educado e tira boas notas na escola. Porém, se mostrou preocupada com o ambiente escolar, pois o garoto sofre bullying por ser “gordinho”, como relata, e também por não ter o espaço dele respeitado quando está em crise.
Quem também brilhou no palco foi a adolescente A.S.O. A garota de 17 anos é autista e sofre de ansiedade. Ela pinta, desenha, dança e faz questão de manter um diário para registrar o seu cotidiano.
A escola não é o lugar preferido da adolescente, que comemorou estar no último ano. “Não aguento aquele lugar”, falou, afirmando que a sua escola não é um espaço de inclusão, e chorou ao contar que muitas vezes é incompreendida pelas pessoas, pois elas desconfiam da sua condição especial.
Tanto o menino quanto a adolescente são exemplos de como o cuidado em liberdade, com tratamento digno e adequado, de forma cada vez mais humanizada e inclusiva, pode transformar a qualidade de vida deles e de tantos outros. Os dois fazem acompanhamento na Raps Embu das Artes.
Ter os direitos básicos garantidos para se tornarem protagonistas de suas próprias histórias ainda continua sendo um desafio da luta antimanicomial, cuja sua data de fortalecimento é o dia 18 de maio. Segundo a coordenadora da Saúde Mental de Embu das Artes, Bárbara Bella Urban, eventos como este são importantes para refletirmos onde estamos e onde queremos chegar, a fim de nortear a implantação de políticas públicas eficientes. “Estamos resgatando as boas práticas antimanicomiais”, afirmou.
Foi um dia de festa e emoção, com apresentações musicais, aulas de chi kung (exercício chinês) e participação dos usuários que compuseram a plateia e se sentiam à vontade para dar os seus testemunhos. Participaram do evento, as psicólogas Tatiana Libarino (Caps Embu das Artes) e Jamile Abbud (Caps Brasilândia São Paulo), a assistente social, Letícia da Silva, que conduziu a cerimônia, a conselheira de Saúde Mental, Juvelina Machado, além de profissionais de saúde.
Fotos: Bruno Albarello