A ilha verde dos Moura

23/09/2009 - 0:00
A ilha verde dos Moura
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Há pouco mais de dez anos, o entroncamento das ruas Oiapoque, Turiassu e Embu-Guaçu, no Parque Pirajuçara, era uma “ilha” onde se via carro velho e entulho. Morador do bairro há 30 anos, José Geraldo Moura, o seu Moura, hoje com 72 anos, e o filho José Maria, 39 anos, transformaram o espaço de aproximadamente 50 metros quadrados numa verdadeira ilha verde.  “Quando passaram o asfalto, jogavam bloco, pedra e carro nessa área. Tirei um caminhão de pedra daqui”, conta Zé. “Gosto de jardinagem. Vou cuidar da pracinha porque gosto de plantar e pra ninguém bagunçar”,  foi o que pensou o morador da rua Oiapoque quando decidiu cuidar da área.

O lugar é um misto de pomar, jardim e horta. Zé Maria comprou mudas e outras foram graciosamente doadas. Anos atrás, um vizinho plantou quatro pés de uva japonesa, que agora se destacam como árvores frondosas. Vê-se amora, goiaba e ameixa amarela; fícus, pinheirinho e coqueiro; coloral, boldro chileno, puejo, hortelã e carqueja, “que é bom pra dor de cabeça”, explica seu Moura. Ah! Tem ainda gerânio, rosa, espada de São Jorge, dama-da-noite, pingo de ouro, e pássaros, que atraídos completam o oásis verde.

E tem mais: o pé de Manacá-da-serra, árvore que concorre a símbolo de Embu das Artes, não vingou, mas Zé Maria vai replantar. A muda de pau-brasil que comprou está aguardando a data adequada para o plantio, já marcado por ele: 15 de setembro.

Destroem de um lado, plantam de outro

Faxineiro aposentado e analfabeto, Seu Moura conta que plantou um pomar na Escola Estadual Embu N. “Era um terreno à toa da escola. Aí plantamos jabuticaba, manga, banana. Tiramos quase um saco de feijão, milho que o pessoal da comunidade comeu”. Isso foi há três anos. Hoje, o pomar já não existe.

Separado, Zé Maria vive com dois dos seus três filhos. Trabalha com manutenção – inclusive fins de semana e feriados – como pedreiro, encanador e o que pintar. Nas poucas horas vagas, aplica seus conhecimentos de um curso de jardinagem na pequena ilha verde. “Trabalho direto. Meu pai é quem de vez em quando grita com a molecada pra não destruir a praça, e a gente pede pra não jogarem lixo”, explica.

Zé Maria poderia não ter tempo para cuidar da praça que criou. Não satisfeito, aponta para o alto da rua Oiapoque e diz que está plantando um novo jardim na área atrás do conjunto habitacional Embu N.

Praça sem nome

A praça criada pelos Moura não tem nome. “Tenho vontade de ir na prefeitura pra registrar essa praça”, diz Zé Maria. Já lhe disseram que devido ao Rodoanel a praça seria extinta. “Se acabar, paciência”, lamenta. Batizada informalmente de praça dos Moura, alguns vizinhos levam mudas, mas seu Moura acaba recusando porque falta espaço para plantar.

Talvez entendendo que a praça embeleza o bairro e revigora o ambiente, a comunidade respeita e utiliza a área preservada espontaneamente pelos Moura. Quando alguém precisa de uma plantinha medicinal, vem pedir a eles. É o reconhecimento dos moradores aos Moura que, na praça que é de todos, plantam também cidadania e respeito ao meio ambiente.

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