Aberto o Centenário Solano Trindade

10/07/2008 - 0:00
Aberto o Centenário Solano Trindade
Acessibilidade

“Eu estou muito emocionada, muito feliz”, disse Raquel Trindade na abertura do evento que comemora os 100 anos do nascimento de seu pai, Solano Trindade, no palco do Centro Cultural Embu das Artes, noite de sexta-feira, 4 de julho. Revelando a importância de Solano Trindade para a cultura popular brasileira, a Prefeitura de Embu promoveu junto aos Correios o lançamento do selo postal e carimbo personalizados comemorativos da data. Durante um mês todas correspondências remetidas de Embu terão esses registros, levando a imagem e o nome do principal poeta e ativista negro contemporâneo do país para qualquer parte do mundo.

O multiartista radicado no Embu (falecido em 1974), elogiado por intelectuais como Carlos Drummond de Andrade, Darcy Ribeiro, Sérgio Milliet, entre outros, completaria o centenário em 24 de julho. Para reverenciá-lo, a Prefeitura promove atividades artístico-culturais até o fim do mês (veja a programação na página de Turismo).

Solano Trindade não poderia deixar uma herança mais multirracial e cultural. A família Trindade mistura negros, brancos, amarelos, índios. “Papai já tinha a visão de que a gente se unisse a todas as raças, tanto que tenho netos ‘japonegro’, afro-germânico, e papai falava ‘tenha orgulho de ser negro e das nossas tradições’”, ressaltou Raquel, folclorista e artista plástica que herdou e transferiu para sua geração o talento do pai e também da mãe, Margarida Trindade. Ambos, em 1950, junto com Edson Carneiro fundaram no Rio de Janeiro o Teatro Popular Brasileiro, teatro folclórico de valorização da cultura popular. Ela lembrou ainda quando Solano chegou ao Embu, convidado por Sakai e Assis. “Ele ficou louco pelo Embu, achou que tudo que havia de ruim no mundo, Embu tinha de bom”. Das lições deixadas por Solano a Raquel e seus descendentes, uma é lembrada em especial. “Papai certa vez me disse: ‘não vou deixar nada de material. Se você gosta de arte filha, se entregue a ela. A arte é o alimento da alma’”.

Vítor da Trindade e banda cantam Solano

De fato, da arte a família Trindade extrai o alimento que a revigora. Talento os Trindade têm de sobra. Vítor da Trindade, no vocal – ao lado dos filhos Manu, bateria, e MC Trindade, vocal, do percussionista Carlos Caçapava e do baixista Beto Birger – apresentou poesias do avô Solano musicadas por ele. O projeto deve resultar num CD que inclui no repertório as excelentes “A Velhinha do Angu”, “Xangô”, “Poema à Mulher Negra” e “Navio Negreiro”. Segundo Vítor, antes as canções estavam intelectuais demais, depois ele foi descobrindo novos caminhos, adotando o estilo mais popular possível, como o avô gostaria que fosse.

Antes de apresentar o Maracatu do Teatro Popular Solano Trindade, Raquel Trindade já expressava sua emoção. “Eu sou a mulher mais feliz do mundo. Tenho a arte, filhos, netos maravilhosos, só não tenho dinheiro, mas aí seria covardia… Estou muito feliz”, falou à platéia formada por autoridades municipais e um público que lotou o Auditório Cassio M’Boy para prestigiar o evento.

----
Compartilhe nas redes sociais