Ignorando problemas sociais e econômicos, Câmara desaprova EmbuCriança

21/03/2007 - 0:00
Ignorando problemas sociais e econômicos, Câmara desaprova EmbuCriança
Acessibilidade

Um projeto socioeducativo foi criado pelo governo municipal para atender em caráter emergencial crianças de 0 a 3 anos do município: o EmbuCriança. De acordo com o projeto, mães-bolsistas cuidariam dessas crianças, receberiam kit alimentação, material educativo e de higiene, sob orientação de educadores, agentes de saúde e assistência social, sendo remuneradas com bolsa-auxílio no valor de R$ 70 por criança, limitado a R$ 140 por família. Além disso, mães e filhos participariam de atividades de lazer, culturais e educacionais em espaços comunitários em seus bairros, como igrejas e associações de moradores. O princípio básico do EmbuCriança era aliar o convívio familiar à formação educacional e social básicas.

Embu convive com uma dura realidade social e econômica. Dados do IBGE apontam que a cada 1.000 bebês nascidos na cidade, 17 morrem por causas relacionadas à carências socioeconômicas, como falta de alimentos e cuidados básicos. O município possui mais de dez mil famílias abaixo da linha da pobreza e a taxa de natalidade é alarmante, superando 4.300 bebês nascidos em 2006.

Com população em torno de 250 mil habitantes e um orçamento anual de apenas R$ 140 milhões, a Prefeitura de Embu investe na Educação Infantil R$ 1.742 para cada criança em creches conveniadas e R$ 1.615 em creches diretas ao ano. Diante desse quadro e conhecedor profundo da realidade do município, o prefeito Prefeito apresentou o EmbuCriança à Câmara, que o desaprovou. “Lamento, pois quem rejeita um projeto como esse provavelmente esquece que há crianças morrendo de fome. Recebo pessoas que não têm dinheiro para comprar fraldas, leite… Eu buscava atender essas famílias mais necessitadas”, afirmou o prefeito de Embu.

Por seu foco no vínculo familiar, o EmbuCriança tinha ainda a possibilidade de atuar no combate à violência. Na visão de Prefeito, se a criança em situação de vulnerabilidade social não tiver um bom atendimento, poderá ser levada no futuro próximo a instituições como a antiga Febem. “Com educação e ações socioeducativas evitaremos esse problema. O projeto visa amenizar os efeitos dessa vulnerabilidade, que são complexos, e promover o desenvolvimento saudável da criança”, defendeu.

Reconhecendo que muitas mulheres, mães inclusive, cuidam de crianças sem ter qualquer formação ou orientação, a prefeitura procurou ainda intervir nessa realidade. Além de melhorar a formação dessas mulheres, o governo municipal geraria mais uma oportunidade de emprego e renda.

Apesar da insensibilidade, do desrespeito e distanciamento em relação à realidade social do município demonstrados por alguns vereadores da Câmara, que rejeitaram o EmbuCriança, Prefeito reafirma seu propósito de continuar formulando programas e projetos capazes de transformar Embu. “Quero atender a população, mais do que já atendemos hoje”, assegurou. O prefeito conclui ainda que “infelizmente, as eleições de 2008 parecem já estar sendo antecipadas por alguns políticos que decidem rejeitar um projeto de tão grande importância para a cidade e que foi aprovado por importantes instituições e segmentos da sociedade de Embu.”

Repercute mal a rejeição do EmbuCriança pela Câmara

A desaprovação do Legislativo ao projeto EmbuCriança repercutiu negativamente entre lideranças sociais e religiosas da região. Antes de ser votado pelos vereadores, o projeto já havia recebido o apoio de líderes evangélicos, comunitários e conselheiros municipais. Para o bispo Diocesano de Campo Limpo Dom Emílio Pignoli, “essa decisão da Câmara desagrada, porque, na minha opinião [o EmbuCriança] merecia todo o apoio. Não deveria se fazer política contrária, só por motivo partidário. A boa política é aquela que vê a necessidade do povo, acima de partidos”, disse ele.

Segundo o bispo, o projeto é uma tentativa de se atender melhor às crianças. “As leis são muito bonitas, dizem para todas as crianças terem creche, mas as verbas são mínimas. O único jeito de se aliviar a situação no Embu seriam essas ‘mães-comunitárias’ com o apoio da Igreja e dos padres. Eu vi com bons olhos esse projeto. Ainda mais porque a Pastoral da Criança, com a coordenação da Valdete Calixto, já tem pessoas que podem ajudar a dar um atendimento maior”. Ele afirmou ainda que o interesse do povo deveria prevalecer sobre o interesse de partidos, ou de qualquer tipo de “politicagem”.

----
Compartilhe nas redes sociais