Há 50 anos imigrantes japoneses e seus descendentes, além de brasileiros, reúnem-se em frente ao cemitério do Rosário, no centro de Embu, para a missa em homenagem aos antepassados. Este ano, a cerimônia realizada no domingo, 15/6, foi especial. O Centenário da Imigração Japonesa parece ter aflorado nos olhos puxados uma emoção diferente.
Defronte a um monumento em pedra (chamado de jazigo funerário) com a inscrição em japonês “Em memória das almas”, o padre nissei, filho de japoneses nascidos em Nagasaki, André Massao Osaki, celebrou a missa nos idiomas de ambos os países. “A árvore trazida do Japão para o Brasil há 100 anos gerou frutos de várias espécies”, observa. Na visão do religioso, há três frutos admiráveis na história da imigração. O primeiro deles é a integração dos imigrantes na sociedade brasileira, que com seu trabalho contribuem com o crescimento do país. O segundo, o intercâmbio cultural, tendo como exemplo a tecnologia; a arte do origami; os esportes, principalmente o judô para o Brasil e o futebol para o Japão, e a culinária japonesa, também muito apreciada no Brasil. “E o “terceiro, certamente, são os dekasseguis. Atualmente mais de 200 mil nikkeis [descendentes nascidos fora do país] estão trabalhando no Japão”, afirma o padre.
Reverência aos idosos
A cerimônia revela ainda o respeito aos imigrantes ou descendentes mais idosos participantes, que recebem um cobertor de presente. Chamados à frente por Fumio Hashiya, líder da comunidade japonesa do Embu, entre os anciãos destacou-se o senhor Nagata Satoru (registrado com o sobrenome antes do nome), participante desde a primeira missa, em 1958, e que em 25 de julho completará 90 anos. O filho, Sadao Nagata, presidente da Associação Embu-Hino, conta que a família fincou suas raízes no Jardim Magali em 1957. Numa chácara às margens do rio Embu-Mirim, hoje parcialmente desapropriada em virtude das obras do Rodoanel, “17 famílias moravam e plantavam verduras. Hoje, só restamos nós”, lembra.
Antes mesmo de vir para o Brasil, Hashiya, nascido na região de Tokio em 1938, estudou uma história lendária sobre os tesouros que havia na lagoa do centro de Embu, onde hoje fica a Praça da Lagoa. Chegando ao país em 24 de maio 1957, aos 19 anos, sozinho, ele foi para Cotia, contratado da Cooperativa Agrícola local. Segundo o imigrante, até a terceira geração os descendentes de japoneses sofreram muito no Brasil. Vindos para substituir a mão-de-obra escrava, liberta em 1888, eles teriam sido “tratados como escravos”. Porém, com a abertura de escolas técnicas agrícolas para capacitar os imigrantes, o sonho de ter no Brasil uma vida melhor começou a se tornar realidade.
Hashiya recorda que uma dessas instituições foi a Escola Técnica de Agricultura do Ressaca, onde hoje existe um convento religioso. Aberta em 1923, a escola funcionou até 1937, início da Segunda Guerra Mundial, período em que formou 130 alunos. Há 51 anos morando justamente no Ressaca, Hashiya afirma: “não sei viver em outro lugar a não ser no Embu”.
A cultura do país do sol nascente criou fortes elos no Brasil e em especial no Embu, cuja tradição artística atraiu Tadakiyo Sakai, escultor terracotista que incorporou o nome da cidade ao seu, adotando-a como terra natal. A missa trouxe à Tônia do Embu lembranças do convívio com o mestre, falecido em 1981. “Você não imagina a saudade que eu sinto do Sakai, um homem maravilhoso, de grande sensibilidade, e da sua esposa”, comenta a coordenadora do Memorial Sakai e responsável pela continuidade da arte que aprendeu com ele.